sábado, 13 de dezembro de 2014

Onde andas espírito do Natal?

Não sei o que se passa este ano. Não me sinto próxima do natal. Eu, que faço a árvore sempre no dia 1 de novembro por desde miúda achar que a casa enfeitada durava tão pouco tempo, este ano só a fiz no inicio de dezembro.
Até mesmo os presentes de natal ficaram pelo caminho. Nesta altura do ano já tinha tudo planeado e já tinha começado a prepara-los. Há uns 6 anos para cá tenho sido eu a fazer os presentes para oferecer, cabazes de natal com coisas doces e deliciosas. Unicamente o que compro são os brinquedos para os mais pequenos. Este ano, além de não ter planeado nada, ainda só comprei um presente para o meu filho. Shame on me...
Ainda não sei se farei alguma coisa para oferecer a alguém, visto que as minhas frequências na faculdade começam daqui a 3 semanas e ainda tenho tanto estudo atrasado. Mas esta semana logo me decido, consoante o tempo que tiver disponível.
Não sei o que se passa, eu que adoro ouvir músicas de natal e embevecer-me com elas por adorar esta época festiva, este ano estou numa deprimência que só visto! Ao ouvir músicas de natal relembro a euforia dos outros natais, sinto saudades de casa, do frio da minha cidade, da lareira nas tardes de sábado e domingo, de devorar livros e não me preocupar com mais nada, tenho saudades do silêncio e da paz daquela que foi a minha casa tantos anos. Engraçado, que enquanto lá estive (e não valorizei) achava aquilo tão deprimente e secante que hoje sentir saudades é algo quase irónico.

A única coisa que já fiz, tal como no ano passado, foi bolachinhas decoradas para oferecer aos meninos do IPO de Lisboa. Mas sobre isto falarei depois, quando sentir necessidade.

Talvez o espírito do natal se tenha atrasado, que nestas coisas nunca se sabe!

Quanto aos presentes que pedi este ano ao Pai Natal: fiz um único pedido e o mais sério dos meus 26 anos de existência. Vamos ver se me portei bem este ano para o receber.

ML


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Leva-me contigo

Estou tão cansada de ouvir tudo e todos, por entre silêncios e testas franzidas, que não vales a pena, que o nosso amor é demasiado pequeno para aguentar tamanha incerteza futura. Estou cansada de que os teus fantasmas nos impeçam de ser felizes, cansada de esperar que da tua boca muda saiam as palavras mágicas que irão provar a todos eles que mereces a oportunidade de ser feliz, que me mereces. Estou cansada de olhar à volta e ver-me a caminhar solitariamente e com um desespero desmedido em encontrar-me algures dentro de ti.
Será que os outros não vêem em ti o homem que eu vejo? O homem vergado pelas dores da adição mas que merece renascer, que merece uma nova oportunidade da vida para ser feliz? Porque é isso que eu vejo quando olho para ti!
Todos merecemos ser felizes, é para isso que, obrigatoriamente, andamos cá. Mas até que ponto tu queres essa felicidade, pergunto? Até onde estás disposto a caminhar para conquistar essa felicidade que é só tua e tão nossa ao mesmo tempo? Até onde vai a tua vontade de deixares cair a dor nas pedras da calçada da vida e mostrares-te ao mundo como um homem novo? Até onde merecemos pertencer-nos?
Esquecer-te seria a opção mais fácil, deixar-te para trás entregue à tua própria sorte e escolhas. Sim, eu disse bem, seria. Mas ainda aqui estou, à tua espera.
Consegues ouvir-me amor? Consegues olhar-me? Quem sou eu? Acaso consegues reconhecer-me por entre essa penumbra de entorpecimento?
Ainda estou aqui amor.
O meu colo espera-te cheio de calma e luz, o meu coração continua cheio de alimento que te poderá matar a sede de amor, os meus braços continuam cheios de força para te segurar e proteger, a minha alma continua aqui para completar a tua.
Por isso, vem buscar-me.
Leva-me para lá do arco-íris onde não existe tesouro maior do que a nossa felicidade; leva-me contigo para dentro do teu livro mais cor-de-rosa onde todos os teus dragões se tornam seres ridículos e onde príncipes e princesas não passam de coisas de criança; leva-me para a tua casa que tanto tornamos nossa; leva-me e deita-me na tua cama onde pertence o meu cheiro que beija o nosso sabor; leva-me contigo para um céu ou até mesmo para um inferno qualquer onde jamais larguemos as mãos.
Pega-nos ao colo e leva-nos que eu indicar-te-ei o caminho. Leva-nos até onde possamos parar e descansar, finalmente, no regaço da paz que tanto almejamos. Dá-me a tua mão e deixa-me conduzir-te até ao fundo do túnel onde possas ver que o sol nasce todos os dias: basta dizeres sim e eu estarei lá. Nada precisas dizer mais do que um "sim".
"Vai aonde te leva o coração", disse Susanna Tamaro. O meu ainda está aqui sentado na pedra à espera do teu.
Por favor, não demores.

ML

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Ensaio sobre a felicidade

Como é que se é feliz? Qual a fórmula? Existe alguma?
A ciência, essa pioneira em descobertas e novidades; essa mulher sem rosto capaz de enlouquecer homens de todas as nações, capaz de desorientar pobres e ricos, capaz de provocar ruídos e pasmos ensurdecedores; esse capricho obsessivo que faz refém quem a respira. E ainda assim, não encontrou o pózinho de perlimpimpim para poderes comprar meio quilo ou duas toneladas de felicidade numa loja à tua beira.
Existem três categorias de pessoas: as que dizem que vêem a felicidade todos os dias, que se levantam e se deitam de mãos dadas com ela (não vá a menina fugir!); as que dizem que nunca a viram, não lhe reconhecem nem rosto nem forma e criticam os que julgam tê-la por se tratar de uma ilusão; e ainda as indecisas (e parvas também) por julgarem nunca se terem cruzado com ela mas que a imaginam e acreditam com a força (e coragem) profunda que vem da mais pequena partícula da alma de que ser-se feliz deve ser maravilhoso e que lutam todos os dias para, quiçá, arrebatá-la para todo o sempre (tipo euro-milhões 'tás a ver?).

Eu não sou moça dada à ciência porque eu cá não sou refém de porra nenhuma. Eu e ela temos uma relação familiar q.b., por isso não há abusos nem açambarcamentos de nenhuma das partes porque há todo um bom senso em mim que sabe distinguir o que é da alma e o que é dos homens. E da alma a ciência não percebe nada.
Poderíamos pensar na felicidade como um ensaio (e não, não é sobre a cegueira de Saramago). Recriávamos um reallity show do tipo "Ser feliz por um dia" e durante um dia fingíamos ser felizes. Podíamos fingir que somos ricos/as e que temos uma casa com piscina virada para o Guincho. que temos todo um rol de criaturas a rastejar (tipo lagartos) atrás de nós a desejarem até as nossas vísceras, que temos um famosozeco qualquer como marido ou uma barbie falsificada como esposa que nos gala e trata como príncipes ou princesas de última geração, podíamos até mandar fechar um shopping inteiro só para fazermos compras em silêncio sem atrapalhação nenhuma (só nós e as moscas), ou então viajar durante uma semana e recriar a versão "à procura de nemo" mas em formato estupidez "à procura da felicidade". Temo que mesmo assim não saberíamos o que é a felicidade; tudo não passaria de uma coisa fingida e forçada...por um dia.

Particularmente, eu já pertenci às três categorias citadas acima e neste momento encontro-me na categoria do "a caminho". Uma coisa eu já percebi, é que a felicidade não se encontra, não se compra e nem se ganha: constrói-se.
O meu conceito de felicidade passa por três fases: percepção, construção e consumação. A fase da percepção é quando passamos de ignorantes a despertos, é quando percepcionamos a felicidade em momentos, gestos, sons. paisagens, lugares, é quando deixamos de acreditar que a felicidade passa pelos outros e assumimos a responsabilidade de que ela depende de nós.
A fase posterior (e aquela onde me encontro presentemente) é a de construção, e esta sim é o mais longo e difícil processo da nossa vida porque implica alargar a linha de visão obrigando-nos a olhar não só em frente mas também para os lados, implica sermos humildes e aceitarmos as nossas próprias limitações, implica assumir-mo-nos com tudo aquilo que temos e somos e percebermos o que queremos ter e quem queremos ser no futuro, implica estabelecer um compromisso com e para a vida, implica tentativas/erros e com isso crescer sem culpas.
Por fim a fase da consumação, e para chegar aqui é uma questão de coisa pouca porque à medida que a felicidade vai sendo construída vamos experimentando a sensação de a sentir pois ela vem sempre de dentro para fora e o saber olhar-mo-nos e aceitarmo-nos é meio caminho andado para a conquistar.
Acredito que não existe melhor sensação do que vivermos bem connosco mesmos; e eis "o segredo" da felicidade. Lá chegarei!

A felicidade é também um ensaio sobre a cegueira de nós mesmos, sim, mas principalmente é um ensaio para a alma e cada vida é um ensaio, somados a outros, em busca desse tesouro que habita nela.
Perdemos tanto tempo à procura dos outros para alimentar a nossa felicidade, procuramos tanto essa sensação por ruas e vielas obscuras, perdemo-nos tanto de nós mal dizendo da felicidade que tarda em chegar, cegamo-nos com a ilusão de que ela existe algures para ser encontrada ou comprada e quando damos conta o tempo de ensaio terminou e temos que esperar por outra oportunidade cósmica para recomeçar a procura, outra vez.

Acredito que um dia, todos vamos perceber que a felicidade não é um modo: é um estado. Até lá, vamos ensaiando as vezes que forem precisas até acertarmos na fórmula universal de cada um.

ML

sábado, 25 de outubro de 2014

O valor da saudade

Desde pequenos que aprendemos que a saudade dói. E não deixa de ser verdade, até certo ponto.
A saudade é um sentimento de ausência, é um querer estar ou ter e não poder, é uma janela que nunca se fecha. Por norma, a saudade tem uma conotação má, uma sensação tão negativa que o ser humano aprende, desde cedo, a combater ao longo da vida.
Por influência social? Talvez.
Desde cedo vemos à nossa volta os que a sentem e como a sentem, e quase sempre é através de lágrimas e lamentos. Com isso crescemos e desenvolvemos todas as armas para a combater como se fosse um germe, um vírus, uma epidemia urgente de erradicar; como se a saudade pudesse instalar-se em cada célula, desenvolver resistência genética e propagar-se pelo corpo até corroer a alma e levar-nos o último sopro.
Mas apesar do hábito que criamos em relação à forma como os outros vivem a saudade, acredito que é possível alterar esse pensamento deturpado e em vez de sentirmos uma saudade como um sentimento devastador, pesado e vazio, é possível permitir-mo-nos sentir uma saudade que nos pode dar um tanto de bom. Para isso só é preciso duas coisas: deixarmos de ser parvos e sentirmos.

Todos os dias permito-me sentir a saudade. Saudade do homem que amo, do meu filho, do meu avô. E aqui temos três saudades distintas:

Saudade do homem que amo

Separam-nos 40 min de distância (Lisboa-Cascais). A qualquer hora podemos estar juntos, mas além disso temos um telemóvel e um computador que facilita a comunicação entre os dois. Ainda assim, ambos sentimos a saudade constante do querer estar do lado, agarrar a mão e não larga-la mais, o deixarmos de ser gente e passarmos a ser lapas em simbiose. Ao invés disso sabemos viver em individualidade (porque é obrigatório nunca deixarmos de ser "eu") conjugada com o "nós" e a saudade é só uma consequência do respeitarmos esse equilíbrio que qualquer relação a dois deve ter.
Se dói? Muito. Está na nossa natureza contrariarmos tudo o que nos possa provocar dor e a ausência provoca-a. Mas é aqui que entra o saber sentir: a melhor coisa que um casal pode sentir é a saudade. A saudade de voltar a reencontrarem-se ao fim do dia, depois de um dia extenuante perdidos na individualidade e nos sonhos de cada um, como se um fosse a bússola do outro pronta para apontar o Norte comum dos dois; a saudade do beijo e do abraço que nos encaixa de novo no puzzle do "nós"; a saudade de voltarmos a pertencer aos olhos do outro; a saudade de beber da fonte viva que é o coração do outro; a saudade de tocar no corpo onde vive metade de nós.
Eu sinto isto contigo e, oh meu Deus, como é bom sentir! Todos os dias aprendo mais e melhor a sentir a saudade porque é com ela que também aprendo a degustar todos os nossos momentos, é com ela que sei que o caminho faz-se andando de mão dada contigo e é com ela que tenho a certeza de que o amor que temos está vivo e bem de saúde.
Se muitos casais conseguissem olhar para a saudade como nós conseguimos olhar para a nossa o amor seria sempre saudável e existiriam menos divórcios. Porque o que estraga o amor é a ausência sim; da saudade.
Temos a virtude da insatisfação que nos leva a procurar a novidade, a descobrir o desconhecido, o que também nos leva ao defeito de que o que não é novo passa a desinteressante. E numa relação a dois esse é o maior desafio: descobrir e procurar o que ainda não conhecemos. O melhor mecanismo? A saudade, sem dúvida. Ela é o motor que nos faz percorrer distâncias para do longe fazer-se o perto, e isso não serve só para distâncias físicas mas também emocionais.

Saudade do meu filho

Sou uma mulher abençoada por te ter e faço questão de to mostrar todos os dias, mesmo quando esses dias não são tão bons. E a verdade é que já o dia vai a meio e só me apetece chegar a casa, abraçar-te e sentir esse cheiro de bebé quase extinto mas que ainda consigo sentir, beijar as tuas bochechas mai' lindas que fazem covinhas quando sorris (como as minhas), de sentir o teu abraço apertado (que quase me sufoca de tanto apertares o meu pescoço). Contigo o valor da saudade é ainda maior porque tu és um pedaço meu, literalmente. E sem ti não existiria nenhum ponto cardeal na minha vida, não haveria bússola capaz de me manter em terra. Ainda assim, a saudade diária que tenho de ti é tão boa que nos permite amar-mo-nos melhor quando voltamos para os braços um do outro.
Prometo-te que farei questão de a manter como a vivemos, mesmo quando voares para fora do ninho. Mas posso só pedir-te um favor, meu amor pequenino? Cresce devagarinho, sim?

Saudade do meu avô (o meu eterno ídolo)

Esta saudade é a que me dói mais. Porque ver-te implica fazer um esforço enorme por ter poucos flashes da tua fisionomia. Não fossem as fotografias guardadas pelo tempo e não me lembraria ao certo de como eras (eu era tão pequena quando me deixaste).
Tu sabes que falar de ti não é fácil mas é um orgulho que me deixa um embargo na voz. E apesar da saudade ser boa porque me relembra que estou viva, a que tenho de ti é uma aprendizagem contínua. Há dias em que ela me faz bem mas há outros em que ela me vence. Não é fácil encontrar um lado positivo na saudade de quem já não está, de quem amamos e não podemos ouvir ou abraçar. Mas sabes que mais? Esse lado existe. A saudade que tenho de ti obriga-me a aprimorar os cinco sentidos (e até o sexto!) que me permitem sentir-te por perto, ouvir-te, abraçar-te, conversar contigo. Já te disse que o amor faz milagres?
É a saudade que tenho de ti que nos ligará para sempre, é ela que alimenta o nosso amor todos os dias da minha vida, é ela que me ensina a amar mais e melhor os outros que cá estão e é ela que me conduzirá de volta aos teus braços quando a minha missão entrar em modo "the end". Espera-me, sim?

Perante isto, só posso concluir uma coisa: o valor da saudade tem muito mais de bom do que de mau. A saudade tem o valor que lhe quisermos dar.
No meu conceito, a saudade é amar com sabedoria, mas sobretudo é sermos corajosos para a sentir.
Não fosse ela e o valor do ter e do pertencer não tinham razão de existir. E é pertencendo que nos humanizamos.

ML




sábado, 13 de setembro de 2014

O amor é fodido (?)

Quando eu já pensava saber toda a verdade sobre o amor, apareces tu e tornas um "jamais" em "porque não?".
Tudo o que para mim era certeza, verdade absoluta, conceito estudado e arrumado desapareceu. Hoje no lugar de tudo isso tenho uma verdade relativa: o amor é fodido, e já o dizia Miguel Esteves Cardoso.
Eu hoje entendo que o amor ser fodido tem muito que se lhe diga porque isso depende de muitas variantes, e contigo eu aprendi que depende das pessoas.
O amor contigo não é fodido. Contigo os sonhos ganham vida própria, os sorrisos são tão espontâneos e verdadeiros que até fazem doer as bochechas e que o peito pode também doer por gargalhar em vez de chorar.
Contigo aprendi que os sonhos não podem servir de chão para ninguém porque eles só servem para voar. Aprendi também que a solução não passa por colar pedaços porque nem tudo o que parte se volta a colar, mas sim passa por juntar os pedaços e fazer uma peça nova muito mais bonita, mais sólida e à prova de falhanços.
Contigo aprendo tanto e nem te apercebes!

Alguma gente passou pela minha vida e além de uma bagagem cheia de lições, cada uma delas deixou um rasto de mágoa e medo que me foi entorpecendo o coração e aumentando o meu perímetro de segurança. A última pessoa fez-me ficar no meio de muros maiores que eu, com arame farpado no topo sem qualquer porta ou janela e minas espalhadas pelo chão para o caso de alguma coisa inesperada cair do céu.
De repente, sem tu quereres e eu o desejar vi o arame farpado a recolher-se, os muros baixarem para metade e além surgiu uma porta que só abre por dentro.
Poderia dizer que o amor é fodido porque eu tinha-lhe dado férias sem termo mas resolveu pagar para me ver a lixar-me outra vez.
Poderia dizer que o amor é fodido porque entre nós separa-nos um bom par de anos de experiência que me fariam pensar que sou imaturidade demais para ti.
Poderia dizer que o amor é fodido porque a minha vida ainda tem pedras soltas na minha calçada e poderias tropeçar nelas.
Poderia dizer que o amor é fodido porque entre o ser racional e o ficar estúpida eu preferia ser agnóstica.
Poderia dizer que o amor é fodido por tudo isto e muito mais, mas até o tudo é relativo.

Quando se agarra a mão de alguém como nós agarrámos a mão um do outro o amor jamais se pode tornar fodido. Fodido foi andarmos a fugir do que já era tão óbvio! Mas nem a fuga nos impediu de ficarmos...fodidos.
O amor estava muito longe do conceito absoluto que eu tinha interiorizado, estava muito longe de se resumir a tudo aquilo que eu já tinha visto e sentido. E tudo isto graças a ti, que além de teres mudado todos os meus conceitos e teorias oriundas da minha prática mudaste totalmente a direção dos ventos que sopram na minha vida.
És brisa doce, és luz pura, és alimento, és vida.

Obrigada por me mostrares todos os dias, paciente e incansavelmente, que no mundo não existem só cobardes! Se é isto o amor fodido então que muitas mais pessoas sejam fodidas por esse mundo afora.
E de todas as coisas que aprendi contigo, existe uma que é a mais especial de todas: o não ter medo de ser feliz.




a nossa música :) 


ML





quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Um anjo chamado Nonô

Hoje o mundo perdeu uma flor e o céu ganhou mais um anjo.
E começo a concluir que este ano é o ano da razia brutal de recolha urgente de anjos porque Deus deve estar a montar um festim lá em cima e então precisa dos melhores. Vai dos mais pequenos e inocentes aos mais crescidos e vividos, não há pré seleção.
Tu Nonô, minha (e de tantas outras pessoas) querida, foste uma das escolhidas. Acredito que seja um privilégio para a pátria espiritual receber anjos mas... o mundo também precisa deles para o fazer rodar.
Acho que Deus se anda a esquecer disso! E com a tua partida tive uma necessidade brutal de ripostar e pedir-lhe o livro de reclamações, tive a uma necessidade enorme de gritar e pedir-lhe "pára pá, já chega!". Mas temo que ele não me ouça, Nonô.
Sabes o que me dói? É que os sorrisos e a força interior humana deviam ser os remédios suficientes para curar uma coisa ridícula que se lembrou de surgir e procriar no teu corpo, essa coisa estupidificada que até precisa de nome para meter medo, essa coisa que quando sente que o medo não é o bastante ainda tem que matar só para ter o gostinho de dizer "eu ganhei". Mas sabes que mais Nonô? Tu ganhaste. Não porque o conseguiste exterminar (bem sei que somos ainda muito limitados para que isso aconteça sempre com sucesso) mas sim porque tu usaste e abusaste dos remédios principais para o enfrentar. E nisso, minha linda, foste grande!
Com a tua força e o teu sorriso pintaste o mundo de cor-de-rosa. Não existe foto nenhuma que eu não tivesse visto espalhada pelas redes sociais onde aparecesses triste ou desanimada e acredito que tiveste momentos desses. Mas em cada foto tua partilhada a homenagear-te, o melhor remédio contra qualquer doença está lá presente: o sorriso.
E foi com esse sorriso que marcaste cada um de nós que te acompanhou, que esteve de mão dada contigo nessa luta amarga, que te amou e acarinhou com o coração cheio de esperança, foi com esse sorriso que nos pintaste a todos de cor-de-rosa.
Mas por trás de tanto rosa, deixaste-nos o coração na mão. Ficou um vazio, uma ausência agonizante, um silêncio angustiante.
Desculpa a minha fraqueza, Nonô. Mas dói-me.
Não és a filha a quem eu dei a vida mas és a filha de alguém por quem eu daria a vida. E não pestanejava. Sabes porquê? Porque para mim é incompreensível um ser tão pequeno ter que suportar as dores que a maioria dos grandes não suporta; porque para mim é incompreensível um casal dar a vida a outra vida e ficar sem essa vida de um momento para o outro com as mãos cheias de nada; porque para mim é incompreensível que essa coisa estupidificada que precisa de um nome cobarde para ter respeito invada corpos de almas inocentes sem dó nem piedade. Para ele, Nonô, não existe restrições nem letrinhas pequeninas no contrato que ele estabelece sem qualquer autorização com os corpos que habita, mas sim o gosto de desafiar a vida e as emoções humanas. E se se sentir ameaçado ele acaba com o adversário da forma mais cobarde: tira-lhe a vida.
Onde anda Deus para permitir isto?! Que rico juíz me saiu...
Sabes Nonô, no ano em que perdeste as asas e desceste à Terra, também desceu contigo o meu anjo sem asas. Vocês têm a mesma idade e a mesma inocência, mas neste momento ao olhar para ele no meio das suas brincadeiras e do seu mundo tão simples e tranquilo, o meu coração aperta-se e fica tão pequenino. Porque eu sei que algures, numa outra casa, existe uma mãe que é a tua que olha para o mundo que era só teu onde tu já não estás. Nesse mundo ficaram as memórias doces e amargas desse tempo que não volta, ficaram dois corações cheios de saudade do teu, ficou a marca do teu sorriso como bálsamo da dor maior que chegou para ficar por tempo indeterminado.
Há dores que não deviam sequer existir, há dores que deviam preencher formulário para posterior avaliação antes de desafiar o ser humano, há dores que o mundo tem que simplesmente só servem para nos lembrar que a vida é um sopro.
A tua vida Nonô, foi mais que um sopro, foi uma lufada de ar fresco para mim, para a tua família inteira, para todos aqueles que te acompanharam nessa luta que tão bem enfrentaste. Foste enorme Nonô, aliás, és enorme! Porque de ti levo o exemplo de que a força não tem idade e guardarei junto ao peito o teu sorriso que tanta força nos deu e que resume tudo aquilo que foste e sempre serás para o mundo: a menina que adorava o cor-de-rosa que não venceu o cancro (maldito!) mas que iluminou tanto coração. E só por isso, temos tanto para te agradecer!

Estava na hora de voltar a casa, Nonô. As asas foram-te restituídas para voares, e tu foste.

Ps. Faz-me só um favor, dá um recado aí a Deus. Diz-lhe que o saldo aqui está a ficar negativo e que ou ele pára de vir buscar os poucos anjos que já temos ou então que mande o livro de reclamações. Farei questão de o preencher vezes sem conta até ter direito a ser ouvida.




ML




sábado, 23 de agosto de 2014

Nova em folha (quase)

Ainda há um caminho a percorrer, mas hoje, garantidamente, não sou a mesma que saiu de Lisboa. Algo mudou, aqui dentro. E a mudança é tão funda que até eu me surpreendi.
Vou a caminho de ficar "nova em folha" (como diz a música).
Se eu tenho asas... é para voar. Estou a aprender. 




ML

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Há horas em que é preciso de pararmos de chorar e queixar, há horas em que é necessário afastar-mo-nos de muita coisa que nos envenena os olhos e a alma, há horas em que é necessário aprender a desapegar de tudo aquilo que nos consumiu durante anos e reciclar-mo-nos.
É o que farei nos próximos dias. Vou em retiro, metade do tempo para o meio da natureza para me ouvir e pôr os pontos nos i's, e a outra metade para perto do mar para me libertar e limpar de tudo o que passou.
É uma viagem só de ida, porque não tenciono voltar igual por dentro.


É urgente ir, é urgente ouvir-me, porque aqui dentro há uma voz que grita por atenção e embalo. E é nela que me irei focar nas 3 próximas semanas.
É como diz a música "pára de chorar e dizer que nunca mais vais ser feliz, não há ninguém a conspirar para fazer destinos negros de raíz". E como a felicidade começa cá dentro, é dela que vou à procura em ambientes propícios.

Até breve




ML

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Amor limitado? Hora de fazer as malas.

Pela primeira vez na vida (sim, porque até hoje nunca te pedi nada), verguei-me com humildade e abordei-te com sinceridade e de peito aberto. Pedi-te a oportunidade para me redimir dos erros que cometi, pedi-te a oportunidade de te mostrar que sou digna da tua confiança; tenho para mim que se estivesse à tua frente to pediria vergada não só na alma mas também nos joelhos.
Depois de te enviar uma mensagem que mais parecia um testamento vital, adormeci, finalmente, na esperança de que acreditasses em cada palavra do que disse, que isso te tocasse o espírito e fizesses de nós um amor melhor. Mas também sei que no meu ouvido alguma coisa me dizia "naaaa ele é demasiado pequenino para um ato tão grandioso como este", e ainda assim eu esperei pelo feedback, porque ao contrário de ti eu dou SEMPRE o benefício da dúvida ao invés de esperar sempre as piores catástrofes.
Eis que de manhã sou presenteada, mais uma vez, com palavras e ideias contraditórias: ora dizias que não me odiavas e que compreendias o porquê de ter feito a burrice que fiz e que ainda gostas de mim e não me consegues deixar ir e por isso mesmo ainda me procuras, ora dizias que eu tinha andado com fulano e sicrano e que não conseguias entender as razões que me levaram a fazer o que fiz. Sempre foste assim! Confuso nas ideias e contraditório (muito).
Tu esqueces-te é de uma coisa; eu também já estive desse lado e senti na pele o que sentiste. Mas também sei aquilo que o meu coração me disse sempre para fazer: quando existe mostras de arrependimento sincero e quando a pessoa pede, humildemente, a oportunidade de mostrar algo melhor do que aquilo que mostrou até então, devo dar o benefício da dúvida. E nesta conduta, umas vezes perdi outras ganhei. A vida é assim mesmo; um risco de perdas e ganhos, e por isso mesmo não me arrependo das oportunidades que dei por a minha vida fora.
Mas nem toda a gente tem a mesma grandeza no coração, como eu! E apesar de isso me deixar fula, passada dos carretos, sei que não posso mudar o mundo sozinha. Pelo menos posso mudar o meu, o que já é muito.
O nosso amor é bonito, a nossa história é uma história irrepetível, bem o sei. E deixa-lo sumir-se assim, sem sequer tentarmos, sem sequer darmos a última gota que ambos tínhamos para dar e torna-la num oceano imenso, é crime. Mas acho que tu não sabes disso. Podes até fazer uma pequena ideia, mas ela é limitada, tal e qual o teu amor por mim.
E se eu tinha dúvidas de que o teu amor é, sempre foi e sempre será limitado, hoje não me restam mais dúvidas! Porque quando és chamado a ter uma atitude nobre não o és capaz de o fazer: perdoar. Acho que nem tão pouco sabes o que isso é!
Para ti sempre foi tudo 8 ou 80, não existe meio, não existe equilíbrio. E lamento informar-te que ser-se assim nunca nos fará feliz. Fala-te a voz da experiência!
Já diz o ditado: errar é humano, perdoar é divino. E tu nunca saberás o que isso é, nem nunca sentirás a sensação maravilhosa de contribuir para o crescimento espiritual de um ser humano que assume com humildade os seus próprios erros e tem a coragem de pedir, não só perdão mas também uma oportunidade de se redimir e provar, tanto para si mesmo como para o outro, que é merecedor dela. O passo para a remissão do pecado é assumi-lo!
A facilidade com que julgas os outros e te colocas no papel de cordeiro e os outros é que são os monstros, é abominável. Isso é coisa de miúdos, não de adultos. E com este tempo separados, longe um do outro, pensei que tivesses crescido o suficiente para teres repensado em muitos dos teus atos que também eles contribuíram para o fim desta relação. Sim, porque tu não és santo nenhum, apesar de gritares aos 4 ventos que és um coitado e que o traído foste tu. Também eu sofri imenso nas tuas mãos, talvez bem mais do que tu nas minhas. Mas eu não gosto, nem vou fazer comparações de quem é que sofreu mais, porque eu sou adulta não uma miúda e além do mais eu valorizo a dor dos outros. Pena é que os outros não valorizem a minha, mas prosseguindo.
Não me arrependo de uma única palavra do que escrevi naquela mensagem e se tivesse que a reescrever fazia-o sem pestanejar. Porque atos de humildade são raros no mundo, e se há coisa de que me orgulho muito sem nunca mo terem ensinado a ser, é ser capaz de ser humilde e perdoar os outros quando se arrependem.
Continuas o mesmo: sempre a queixares-te, a vitimizares-te, a vestires a pele de coitado, a pintares os outros de negro. Tenho a impressão de que na tua vida só existem duas cores: o branco (onde tu te colocas, claro) e o preto (onde estão todos os outros), e que só pessoas que se demonstrem xoninhas é que têm o privilégio de serem pintadas de branco por ti. Mas se acaso elas te falham, vais lá e pintas de preto sem qualquer tipo de problema. Foi assim que a tua vida se desenrolou e acredito que durante muitos anos continuará, tal e qual. E é lamentável.
Mas a partir de hoje, estás por tua conta e risco. Poderás pintar de branco e preto quem tu quiseres, julgar os outros como se fosses dono e senhor da verdade, vestires todas as peles mais rascas que quiseres, tudo a que tens direito! Eu já sou, e ainda mais serei, carta fora do teu baralho.
Chegou a altura de fazer as malas com tudo o que foi feito e dito nesta relação; e levo cadernos ao peito cheios de lições. Chegou a altura de te deixar ir de vez, sem olhar para trás, na certeza de que um dia vais-te arrepender amargamente de me ter batido com a porta na cara, teres-te preocupado mais em chafurdar a merda na minha cara (não te cansas de ter as mãos sujas?) ao invés de me escutares e teres um ato humano e adulto pela primeira vez, na porcaria da tua vida. E nesse dia, eu já não vou estar.
Acredito que estarei num patamar tão elevado que quando olhar para baixo serás uma miragem da qual eu não vou querer lembrar, nem tão pouco ouvir falar. Não porque te vá ganhar ódio, não. No meu coração esse sentimento pequenino e sujo não entra! Mas porque eu não gosto de pessoas limitadas no coração, e até na alma.
Espero que um dia, quando tiveres filhos e netos (se chegares a ter mulher para os ter, claro) e lhes contares a nossa história, espero que nesse dia tenhas a humildade (que nunca tiveste para comigo) de lhes dizer "ela era tudo aquilo que eu queria e que nunca soube que tive, deixei-a ir por ser duro a achar que a vida me iria dar melhor, disse-lhe tanto que a amava mas quando tive a oportunidade de demonstrar o que meu sentimento era capaz de fazer por nós os dois, não o fiz".

Vou cuidar de mim, resolver os meus traumas do passado, vou crescer e voar para outras bandas. Na certeza de que farei sempre o melhor para ser feliz.
Tanto fiz que agora tanto faz! Mas ainda bem que o fiz, afinal, sempre foi esse o valor do meu amor por ti: fazer de tudo para nos salvar. Mas o desgaste... o desgaste levou-me a ser burra e a acabar crucificada como uma bandida. 
Há amores assim, limitados!

E não tenho mais para te dizer a não ser adeus.



ML

sábado, 9 de agosto de 2014

Porque ainda te amo

E não é preciso dizer mais nada, a música já diz tudo.





Ps. "como é que eu faço para esquecer-me de ti e voltar a poder ser feliz?
       Mentiria se dissesse que sem ti a vida segue igual..."

ML

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Falta-me a coragem

Ainda não consegui abrir as pastas onde estão as nossas fotos, onde estão os nossos momentos mais felizes. Ainda não copiei tudo o que nos pertenceu para o disco externo. Nem que enfiasse tudo num baú, o trancasse e mandasse as chaves fora me tirariam este buraco do peito.
Ainda não tive coragem de remexer nas memórias e colocá-las em gavetas para deixar vir o tempo e tomar conta delas com uma armadura de pó.
Falta-me a coragem. Talvez num amanhã, quem sabe.
Eu espero.




ML

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Palavras soltas #3

Hoje, pela primeira vez em tantas semanas de turbulência emocional, tive apetite.
O acompanhamento foi batatas fritas. De repente, parei de dar garfadas e lembrei-me do nosso último jantar "Para mim batata frita que é batata frita tem de ter um bocadinho de sal". As minhas batatas fritas não tinham sal, mas lembrei-me o quanto gostas delas "temperadas".
É engraçado o que um pequeno montinho de batatas fritas nos pode fazer por dentro.
A saudade? Mata, minuto a minuto.
Parece uma contagem decrescente para a morte lenta.
Nunca mais vamos comer batatas fritas juntos, mas a memória delas fica. Para sempre.



ML





segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Palavras soltas #2

"Não acredites se um dia te disserem que tenho 360 graus de Inverno à beira do coração. À beira do coração só tenho distâncias. Longe é voltar atrás. Isto não é poesia. É amor. O poeta tem  a missão de fazer tombar os muros que nos agarram por dentro. Endireitar os caminhos. Engomar demoras. Escrever não é apenas colocar beleza nas parte íntimas do pensamento. O amor existe para nos emprestar felicidade. Desfruta. Realiza a imaginação."

Heduardo Kiesse

ML

domingo, 3 de agosto de 2014

Palavras soltas

"É inútil continuar a escrever em legítima defesa da solidão. Vem buscar a tua ausência antes que passe. Vê se te despachas. Por todas as vezes que atravessei o silêncio sem medo de escorregar na casca das palavras mais duras. Vem buscar o teu nome. Preciso de espaço para dar lugar à outra verdade provisória. E tu, poesia, com que pedra vais defender os meus pecados quando o silêncio doer mais alto? Quem vai reivindicar os beijos que cometi na tua boca? Vem, deixa-me ser poema."

Heduardo Kiesse

ML

Está na hora.

Depois de tanta confusão, de tantos erros estúpidos, de tentativas frustradas de resolução dos nossos problemas, chegou o fim.
Bom, a verdade é que o fim já tinha chegado há muito tempo mas ambos recusámo-nos em aceitar isso e andamos ao colo um do outro...
Mas hoje, o fim consumou-se. Porquê? Porque tinha de ser.
Não interessa o que falhou nem o que não mudou, não interessa culpabilizar ninguém porque nestas coisas do amor (já te disseram que o amor é uma merda?) não há sempre só um que tem a culpa total, apesar de eu saber que na tua mente foste puro (já te disseram que estás muito longe da perfeição?).
Mas no meio de tanta burrice, de tanta confusão, de tantas mágoas e erros uma coisa eu tenho a certeza: é que chegou a hora de pedir ajuda, chegou a hora de ter a coragem de parar e me escutar, de ter a força para pedir ajuda para me levantar do chão.
A verdade foi e tem sido esta: estou emocionalmente desfeita.
E não, não te vou pedir que relativizes o que fiz tendo em conta o meu percurso, as dores do meu passado. Não preciso da tua pena nem da tua compreensão. Afinal somos todos humanos, certo? E o nosso mal é que todos estamos condenados a viver debaixo de um mísero telhado de vidro. A questão é a capacidade de cada um em assumir aquilo que faz. E que fique aqui registado, para ti e para o mundo, mas sobretudo para mim, que eu assumo a minha responsabilidade do que fiz de errado. Não estive bem, é verdade. E sei que pedir desculpas não adianta porque ainda nem eu própria percebi a dimensão da minha própria culpa, porque simplesmente ainda tenho tanto para me conhecer, para me perdoar e curar...
Talvez um dia, tu e eu, percebamos o porquê de tudo ter acabado assim, talvez um dia te volte a reencontrar e te possa explicar a dimensão da minha culpa e aí sim, possa pedir um perdão que me faça sentido. Porque só se o deve fazer se o entendermos e se soubermos a extensão dos estragos que provocámos e neste momento, simplesmente, não consigo sentir.
Já pensei demasiado nos outros e já carreguei com os outros ao colo muito tempo, inclusive tu.
Agora está na hora de pensar em mim, cuidar de mim, do meu coração e das minhas emoções que parecem um novelo cheio de nós.
Está na hora de ser eu comigo mesma, de hibernar para os outros e ir em busca do meu "eu" e pega-lo ao colo, embala-lo, acarinha-lo e reeduca-lo.
Se vai doer? Muito.
Mas está na hora.
Quanto a ti, desejo que sejas imensamente feliz porque no meio de tanto carvão, eu acredito (sempre acreditei, daí ter insistido e (des)esperado tanto) que aí dentro habita um diamante gigante.
Que um dia eu possa vislumbrar esse brilho! E nesse dia sentir-me-ei menos mal, porque verei que tudo valeu a pena.
Desejo que a raiva e o ódio que hoje sentes por mim, um dia se dissipe e "Aquele que de entre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra." João 8:4-11




ML






quinta-feira, 17 de julho de 2014

Deitados na tua cama, eu num canto enrolada no lençol com um seio indefeso de fora e tu no outro com as mãos atrás da cabeça e o peito desnudado, ambos virados para o céu separado por um teto e um candeeiro, permanecemos no mais constrangedor dos silêncios.
De vez em quando eu olhava-te pelo canto do olho e tu tinhas os olhos fechados, mas por algumas vezes apanhaste-me a apreciar cada traço teu. Houve até uma altura em que tocaste com os teus pés nos meus "para aquecer", disseste-me tu, mas o meu lado provocador levou-me a desviá-los só pelo prazer da tortura adocicada.
Depois fui eu que fechei os olhos, com a mente vazia de cenários mas tão cheia de expectativas, e quando os abri apanhei-te a mirares-me delicadamente, como só tu sabes fazer. E rimo-nos, envergonhados, com vontade de tantas coisas mais.
Ambos sentimos naquele momento a tesão que circulava em cada célula dos nossos corpos, percorrendo cada fibra de tecido dos lençóis e das almofadas, em cada mola do colchão, em cada pedaço de madeira da cama.
A tesão não tem cor no espectro humano, mas se tiver noutro qualquer, acho que deve ser branca incandescente, como só um sentimento puro deve ter, ou então dourada como só a alma deve ser. E tenho a impressão que se a conseguíssemos ver, teríamos ficado cegos naquele quarto.
Voltei a fechar os olhos, para sentir mais e mais; a minha frequência cardíaca aumentar, a minha mente a percorrer-te inteiro numa questão de milissegundos acabando por me desfazer em ti como algodão doce.

O amor deve ser como comer algodão doce: desfaz-se na boca, nunca chega ao estômago e não sacia a mente.

Depois de risos e lutas interiores, fechaste os olhos, eu fechei os meus com força e esperei.

De repente debruçaste sobre mim e sussurras-me ao ouvido "Que estupidez... estou aqui a controlar o que é tão óbvio, o que é tão natural e tão nosso. Que se foda a mente." e beijas-me ofegante como nunca beijaste, a tua mão outrora tímida afaga-me o seio indefeso e ganhas a coragem para leva-la mais longe até ao lugar onde o prazer é pecado para quem nunca amou.
Eu cedo à tua investida e com o meu braço puxo-te mais para mim, na tentativa de nos fundirmos e sermos novamente inteiros, como há muito não o éramos.
Tu despes-te de todo o pudor e cobres-me com o teu corpo inteiro, como se fosse inverno polar e possuis-me como se eu te tivesse vendido a minha alma e fosse no meio das pernas o único sitio viável para a resgatar.
A única coisa que consigo fazer é cantar a música universal dos gemidos, enquanto me consomes a alma que é tão tua desde há 1 ano e 7 meses.
Voltas-me a sussurrar ao ouvido e dizes-me "és tão gostosa" como se fossem as únicas palavras do teu dicionário, e por querer estar à tua altura retribuo "sou tua".
Não sei quanto tempo durou, mas pareceram anos. Eu em ti e tu em mim, como só o amor e a tesão mesclados devem ser, culminando com a explosão de cores, qual fogo de artifício em tempo de procissão.
Deixas-te cair e eu amparo-te com mestria, como sempre soube fazer. Ouço a tua respiração a voltar ao normal e quase que consigo contar as batidas do teu coração inundado de paixão.
Levantas a cabeça, olhas-me nos olhos, e como os teus estão tão brilhantes! Dás-me um beijo leve na testa "amo-te" e voltas para o teu canto da cama.

"Eu também te amo", e abro os olhos.
Olho para o lado e vejo-te a dormir aninhado e com a boca entreaberta no mesmo canto da cama de onde minutos (horas?) antes tinhas saído para reclamar o que sempre foi teu por direito.
Eu continuava deitada e virada para o céu onde já conseguia ver a escuridão sem teto e sem candeeiro.
Levantei-me, e pé ante pé abri a porta do quarto e fui.
Até me vestir e sair da tua casa foi um espaço de pouca coisa! Por entre "eu não entendo", "porque saiste da cama?", "estávamos numa boa", "eu sentia-me tão bem", saí sem olhar para trás.
Ficas a saber que eu não consigo controlar aquilo que de mais belo tenho: emoções, e que vivo delas como cada ser vivo vive do oxigénio. E ficas a saber que o controle obsessivo delas origina a longo prazo um vazio igual à morte.
Peguei no carro que me conduziu até a casa, por entre curvas desajeitadas em plena ponte Vasco da Gama, enquanto eu lavava a minha cara e a minha alma com lágrimas.
Já te disse que descobri que habita em mim um oceano maior do que os que aprendemos na escola?
E tem nome, vê lá tu: dor.

Que o mundo inteiro saiba que existem mais oceanos do que aqueles que ensinam às crianças!
E ficas a saber que te amei muito mais do que alguma vez o serás em toda a tua existência.
Hoje não sei que parte de mulher sou eu: a que partilhou contigo um fogo de artifício inteiro em honra do santo amor ou a que descobriu a existência de um oceano novo.
Valha-me o tempo, nosso senhor!
E as orações dos desterrados de esperança também.

Amén.


ML

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Hoje não

Eu queria explicar-te o que penso e o que sinto, pela milionésima vez, desde os últimos dois meses. Eu queria, mas não posso; seria repetir-me vezes a mais, mais do que aquelas que já me repeti. E tu nunca me ouves (será que alguma vez ouviste?).

Eu queria mostrar-te que estás errado, pela centésima vez. Eu queria, mas não posso; porque não sei moldar verdades irredutíveis e absolutas.

Eu gostava de te mostrar que estou a crescer e que apesar da mudança se ter dado, ela não se torna consumada do dia para a noite, é preciso tempo para esclarecer coisas que tu hoje não entendes, nem eu.
Eu gostava, mas não posso; ainda és uma criança adormecida sem colo.

Eu desejava pintar uma coleção inteira de telas irrepetidas, com os nossos momentos mais felizes para nunca mais os esquecermos. Eu desejava, mas não posso; faltam-me as cores.

Eu queria fazer com que acreditasses que o meu arrependimento foi e continua a ser verdade; mais: genuíno. Eu queria, mas não posso; ainda baralhas o que vem da boca e o que vem do coração.

Eu gostava que percebesses que o que hoje és não faz sentido, e que se não aceitares essa urgência em te tornares num menino crescido (próprio da tua idade) vais-te perder para nunca mais te encontrares. Eu gostava, mas não posso; ainda há demasiada dúvida em relação ao que te fui e à verdade que sempre te disse pela experiência que a vida me foi dando e nunca deste ouvidos.

Eu desejava que não fosses tão obsessivo por alguns valores a que só um menino adolescente se agarra com unhas e dentes, como galhos quebrados, por ter medo de se agarrar ao tronco onde estão as raízes que desconhece. Eu desejava, mas não posso; seria viver a vida por ti e a minha já me dá tanto que fazer!

Eu gostava que enxergasses a incoerência que habita em ti e que não a projectasses em mim, como sendo minha. Eu gostava, mas não posso; porque passado este tempo todo ainda não conseguiste perceber o que fui e no que me tenho vindo a tornar, e isso não serve para acalmar essa tua imensidão de insegurança.

Eu queria mostrar-te mais vida para além desta que não resultou em nós. Eu queria, mas não posso; porque a pouco e pouco foste-me desgastando e tornaste-nos numa corda em que cada um puxou para lados opostos: tu para o lado dos teus medos, dúvidas e inseguranças e eu para o lado da felicidade, do sentir, da liberdade, de sermos dois e uma só verdade. E a corda rebentou.

Eu queria dizer-te o inverso de tudo aquilo que vomitei nas nossas discussões, qual reação gástrica às más emoções. Eu queria, mas não posso; porque também eu sou humana e erro como o caraças.
A perfeição? Ando longe disso.

Eu gostava de te pedir, constantemente, desculpas pelas dores que te causei. Eu gostava, mas não posso; porque há uma vida para viver e nunca as repetições serviram mais do que alimentar meninos inseguros armados em vitimas do mundo.

Eu queria dizer-te que as coisas numa relação a dois nunca são lineares, que às vezes os planos precisam de ser abrandados e os sonhos mudados. Eu queria, mas não posso; porque simplesmente nunca falámos a mesma língua.

Eu gostava que não me tivesses tratado tão mal e me magoado tanto. Eu gostava, mas não posso; porque há coisas que só com muita consciência é que mudam. E a verdade é que tu não nasceste para viver; nasceste para sobreviver num ambiente climatizado de segurança, com estímulos constantes de fidelidade e entrega exagerada com uma temperatura amena de auto-estima alimentada pela obediência do outro.

Eu queria dar-te a conhecer a mulher que tenho gerado no ventre do mundo. Eu queria, mas não  posso; porque há coisas que os pequenos não estão preparados para entender. Coisas de grandes! E só se é grande na alma.

Eu queria tanto ter continuado a viver a nossa história na tela do computador, onde éramos felizes num raio de 350 km. Eu queria, mas não posso; porque os contos de fadas só foram criados para viverem aprisionados nos livros. Será que ainda não te fartaste de ler o mesmo?

Eu gostava que entendesses que o perdão nunca sai da boca nem do coração; sai de mais fundo. Eu gostava, mas não posso; porque o perdão é para quem às vezes é parvo, tomba e chora humildemente por amparo. E a isto, eu chamo de reconhecimento; o arrependimento é só uma consequência.

Eu queria dizer-te que ainda gosto de ti. Eu queria, mas não posso; ainda me dóis tanto.

Talvez um dia percebas tudo aquilo que eu fui para ti e que nunca quiseste ver com olhos de gente por estares preso num qualquer conto (maldito) de fadas; que entendas que as histórias mudam ao longo do tempo; que percebas que a vida não é linear: há curvas mais apertadas que outras e quando nos despistamos, podemos demorar a reconstruir-nos; que entendas que há dores mais duras que outras, e nunca relativizando a nossa dor, é sempre bom olhar para a dor alheia: talvez notemos que há feridas que dificilmente saram e ao compararmos com a nossa, não nos parecerá mais do que um mero arranhão. Afinal, o que é a dor de uma traição (erro estúpido consertável) comparativamente com a dor de uma violação (erro estúpido jamais consertável)...?

Talvez um dia te arrependas da tua sagaz estupidez, que deixes de ser um menino insuportavelmente quedado de valores, que me peças perdão e eu te ouça para poder sermos inteiros de novo.
Talvez um dia eu já não saiba o que é adormecer com o coração partido.

Talvez um dia, hoje não.




ML


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Quanto tempo o tempo tem?

O tempo... esse relógio sem ponteiros que nos conduz por ruas e vielas uma vida inteira, e que quando chegamos ao fim, afinal, nunca as conhecemos; essa voz silenciosa que nos dita o que fazer e que, sem percebermos, manipula aquilo que devemos ser e até o que querer.
O tempo... esse entusiasta desde os tempos mais remotos que conta tudo ao milissegundo: os dias, as semanas, os meses, os anos e até as batidas do coração até ao momento em que o nosso tempo, passado tanto tempo, cesse.
O tempo... esse controlador desmedido que nos rouba tudo porque guarda para ele cada tempo por nós vivido, num tempo a que jamais teremos acesso a não ser através das janelas da memória.
Mas, quanto tempo será que o tempo tem?

Aprendi a andar e a falar; aprendi letras e números; aprendi a fazer contas de somar, subtrair e de multiplicar; aprendi a olhar para um relógio e a contar o tempo.
Mas nunca aprendi sobre o propósito do tempo.

Quanto tempo temos até ao ultimo dia?
Quanto tempo demora a passar um desgosto de amor ou a dor da perda de alguém?
Quanto tempo é necessário para descobrir uma cura milagrosa para que o tempo não nos roube mais tempo?

Se ao menos eu soubesse o tempo que levarei a obter as respostas do tempo, talvez eu não desse pelo tempo passar pelo tempo que ainda tenho que esperar.

Se um dia me fosse dado tempo para perguntar ao tempo o que acontece quando o nosso tempo acaba e dá lugar a outro tempo, eu perguntaria o porquê de ser preciso tanto tempo para nascer e morrer. Perguntaria porque é que o tempo nos dá e ao mesmo tempo nos tira tudo; porque é que o tempo nos faz doer e nos incute mais tempo para esperar por outro tempo que há-de vir?

Afinal, o que é esta coisa do tempo?
"O tempo tudo cura", "Dá tempo ao tempo", "O tempo é o nosso melhor amigo"; expressões que ouvi durante este tempo todo e que estupidamente me ouço a dizer aos outros como uma espécie de conforto.
É como se o ser humano nascesse programado para aprender, sem conceitos ou grandes explicações, sobre a espera do tempo; é como se existisse um gene que é constantemente ativado quando alguma coisa corre mal ou mais devagar e isso nos conforte de alguma maneira. Mas nem sempre fomos assim!
De facto, nunca vi ser mais despreocupado em relação ao tempo do que as crianças. Para elas não existe o amanhã ou o ontem; existe o agora. Para elas o tempo passa mas elas não dão por ele passar, não o questionam, não o contam porque não o sabem contar até que alguém lhes ensine, porque o tempo não passa de uma palavra nova que ouvem da boca de alguém e nem fazem ideia do peso que essa mesma palavra tem. E ainda bem.
Na minha opinião, penso que o maior inimigo do tempo são elas mesmas, as crianças. Porque elas conseguem fazer com destreza e sem dificuldade uma coisa que, nós adultos, não conseguimos fazer desde que nos foi injetado o vírus do tempo: viver sem tempo.
Elas brincam; riem; falam; sonham; querem; desejam; são verdade, sem tempo! Não existem relógios com tempo dentro; isso são meros objetos para os quais elas olham e não acham graça. É como se naquele objeto inanimado estivesse um sinal, uma mensagem a dizer "Por favor, não mexer".
Mas depois elas crescem, tal como nós crescemos um dia, e passam a viver aprisionadas num tempo que já não tem volta porque todo o tempo que elas tiveram sem tempo, é-lhes roubado e guardado num tempo a que nunca mais têm acesso. Em vez disso, são-lhes dadas também janelas para espreitar, muito de quando em vez, um tempo que elas próprias terão dificuldade em reconhecer. Passam a viver como nós: amordaçados pelo tempo.

"Há sempre uma criança dentro de nós para ser resgatada", ouvi eu algumas vezes. Mas como é que isso se faz? Como é que podemos ensinar à nossa criança interior a viver comandada pelo tempo? Será que ela merece uma maldade desse tamanho? Será que a nossa infância merece ser arrombada pela chave do tempo?
Ou será que somos nós que temos que aprender com a nossa criança interior a viver sem tempo, dentro do tempo que nos resta? Ou será que somos nós que temos que aprender com ela a fintar o tempo, mesmo que não tenhamos muito tempo para isso?

O resgate da nossa criança interior é aquilo que todos nós precisamos fazer para nos salvar a nós próprios. Só ela nos pode mostrar como dosear a importância do tempo que ainda nos resta, de forma a que o tempo não nos controle até ao âmago e nos mantenha reféns, até à hora em que não seremos mais do que um relógio parado.

É urgente procurar essa criança perdida, é urgente resgatá-la, é urgente não perdê-la de vista! Ela ensinar-nos-á a olhar de frente para a vida sem termos pressa de chegar, ela irá relembrar-nos dos sorrisos que se perderam com o tempo e que trarão com eles o gosto adocicado da vida e é ela que nos guiará no regresso a casa.

Ps. E até para isso, é preciso tempo!




ML






sexta-feira, 4 de julho de 2014

Muda o teu mundo, e o mundo muda.

Há alturas na vida em que não podemos mais fugir daquilo que temos de fazer, mesmo que isso implique doer e chorar.
Há alturas na vida em que temos de deixar o que é do passado, e que teimamos em arrastar para o presente, o que ao passado pertence.
Há alturas na vida em que temos de pegar em todas as pedras que nos impedem de prosseguir caminho e coloca-las à margem.

E foi o que fiz ontem: colocar mais uma pedra na margem.

Pessoalmente, sempre fui uma miúda que sempre se agarrou muito ao passado, com uma tal sofreguidão de resolve-lo e torna-lo um céu estrelado, quando na verdade não passa de um céu em dias nublados que nem a lua se consegue vislumbrar.
Sabotar o passado nunca foi boa escolha! Porque isso implica também sabotar aquilo que quero ser, passando a agir em conformidade com um tempo que já não me faz mais sentido. E depois vêm as dores infundadas, o cansaço da mente, o corpo a gritar “pára com isso, estás-me a destruir” e ainda assim não lhe dar ouvidos, vêm os tropeços na felicidade e simplesmente ignora-la numa teimosia louca do “eu quero aquilo, não isto” mesmo que o “aquilo” já não faça mais sentido.

Quem, muitos de vós, já não sentiu ou passou por isto?

Tenho para mim que no estado atual das coisas, todas as pessoas estão nesta crise interior. Não podemos só falar na crise financeira porque essa é só uma das componentes desencadeadoras da mudança interna que se faz urgente, em cada um de nós. A falta de dinheiro, seja para quem tinha o suficiente para viver seja para quem já não tinha quase nenhum, é um motor benfeitor das mudanças que os nossos espíritos estavam a precisar.
E para muitos, isto pode não fazer sentido; eu compreendo. Ainda estão muito agarrados ao materialismo. Para esses, o tempo da mudança ainda não chegou. É preciso esbarrarem na parede mais um bocado, até ficarem totalmente cobertos de feridas ensanguentadas e perceberem que “o caminho não é por aqui”.

Mas, voltando a mim…

A minha vida, nos últimos meses, deu umas quantas voltas de 360 graus. E que coisa maravilhosa esta! Poderia dizer que foi algo rápido, que não doeu nada; estaria a mentir.
A minha mudança foi tal e qual como voltar a nascer, mas estando ainda viva; e nascer dói. Foi como entrar de novo numa barriga e sentir-me a ser expelida, sentir todos os meus ossos alinharem-se e a contraírem-se até chegar à luz do dia e sentir o ar inchar os meus pulmões de pura vida.
Depois de a vida me parir peguei em mim e embalei-me, beijei-me com todo o amor, verifiquei se tinha tudo nos seus devidos lugares, disse-me “bem-vinda à vida”; tal e qual como quando dei à luz o meu próprio filho.
Foi mágico.
Tem sido mágico!

De repente, é como se não reconhecesse mais o mundo como outrora o via. De repente, é como se olhasse para um novo céu e conseguisse contar estrelas. De repente, tornei-me naquilo que sempre quis ser.
O passado? Não me faz mais sentido. Mas isso não quer dizer que os laços não estejam lá, uns para ser cortados outros para serem melhorados.

E como é que isso se faz? Perguntam bem. A única resposta que tenho é: conhecer-mo-nos.

Falo agora particularmente para ti, que estás num marasmo de dores desnecessárias, de dúvidas por não saberes o que fazer da tua vida (profissional ou pessoal), que vives na teimosia de agarrar o passado numa tentativa de ver estrelas quando elas já não estão lá. Conhece-te! Decide onde queres estar e quem queres ser: passado em pedaços ou futuro inteiro. Precisas de tempo? Ok, tens todo o tempo do mundo. Mas apressa-te, se quiseres ver as estrelas que vejo daqui; se quiseres repetir a sensação de nascer para a vida; se quiseres ter tudo aquilo que mereces e tens direito.

Mas atenta ao que te vou dizer; isto é uma viagem sem volta. A partir do momento em que decides embarcar já não há regresso, porque se voltares vais-te perder e já não vais encontrar nada a não ser vazio; o mesmo vazio em que vives hoje, mas triplicado.
Esta é uma viagem à volta do teu mundo onde só levas na tua bagagem uma tela e meia dúzia de pincéis. As cores terás de as procurar e misturar. O que irás pintar só tu saberás e as paragens nos portos da vida dos outros serão breves porque não vais poder ficar mais do que o tempo necessário para pintar a tua tela. Porque um bom pintor não faz repetições!

Sozinho/a não consegues mudar o mundo inteiro, mas podes contribuir para a mudança. E, como toda a mudança, ela vem de dento para fora. Por isso, muda o teu mundo e, consequentemente, verás o mundo a mudar: sentirás a leveza que desejavas sentir há muito tempo; darás por ti a sorrir mais vezes ao invés de chorar e a debateres-te contigo e com os outros; as pessoas que achavas mais improváveis de se aproximarem de ti, aproximar-se-ão naturalmente; os cheiros, os sons e as cores tornar-se-ão mais suaves e dóceis aos teus sentidos; e as estrelas…ai, as estrelas… serás uma das muitas que contribuem para a beleza do universo inteiro! A intensidade do brilho só dependerá de ti.
No fim, verás que valeu a pena a mudança. Verás a quantidade de tempo que perdeste com coisas inúteis que nada mais te poderiam dar se não ensinamentos e que jamais fariam parte do teu futuro, por não ser o suposto.

Para construirmos um castelo, precisamos de pedras!

E um dia, antes de te tornares um anjo com asas, vais assistir à inauguração da exposição de todas as telas que pintaste durante a viagem que fizeste. Terás na assistência os rostos que escolheste pintar, as vidas que se quiseram cruzar contigo, as histórias que partilhaste; e não haverá nada mais maravilhoso do que sentir o peito cheio no último suspiro desta vida, e recomeçar na outra com a sensação de dever cumprido.



ML



quarta-feira, 2 de julho de 2014

Oração de uma mãe

Deus,
nunca te vi o rosto, nunca privei contigo nem tão pouco conheço os teus propósitos para cada um de nós aqui na Terra. Mas hoje tenho uma maior urgência de falar contigo; mais do que o habitual.

Desde os últimos acontecimentos que vejo no facebook e nos jornais online sobre a morte do filho da Judite de Sousa, fiquei com o meu coração pequenino e apertado. Sim, eu sei, é normal, especialmente para quem é mãe! Eu também o sou, e apesar de ter a sorte de ter o meu Gabriel por perto e isso ser mais que "sorte", ser uma bênção, eu preciso de te falar sobre ele.
O meu coração chora a morte de um filho que não conheço e compadece-se com uma mulher que tem um rosto que todos conhecemos por ser figura pública. Podia ser anónima, minha vizinha ou vizinha dos meus pais; a minha dor seria a mesma.
E por sentir esta dor tão urgente e arrebatadora, venho deposita-la nas tuas mãos, através de palavras, com a esperança fervorosa de que me ouças.

Deus,
tu sabes que tu e eu nem sempre tivemos uma boa relação. Também sabes que houve muitas alturas na minha adolescência sofrida em que me revoltei e te injuriei. E mesmo sabendo que és um pai com um amor enorme e que me perdoas, faço questão de te pedir desculpa.
Desculpa.
Eu estava a sofrer e não entendia esse sofrimento, não sabia o propósito dele e, por isso, era mais fácil culpabilizar alguém. E muitas vezes tu foste esse "alguém".
Hoje, começo a entender o propósito de todo aquele sofrimento, de toda aquela solidão. Obrigada por me teres dado aquela provação porque sei que foi graças a ela que hoje sou o que sou; foi graças a ela que cresci; foi graças a ela que consegui mudar as duas pessoas que me deram a vida e que eu jamais pensei toca-las com aquilo que tenho de melhor: as palavras; e é graças a ela que todos os dias luto para ser uma boa mãe.

Mas não te venho pedir por mim, Deus. Hoje venho-te pedir pelo amor da minha vida: o meu filho.

Eu sei que só tu sabes o propósito dele na minha vida e que grande parte da tarefa é minha. Mas...
Por favor não mo tires de uma forma brusca! Peço-te de joelhos e vergada pela dor alheia: não mo tires.

Deixa-me continuar a vê-lo crescer com aquela inocência que, um dia, se perderá quando a realidade dura da vida lhe bater à porta.
Deixa-me continuar a ouvir as suas frases adultas de quem me imita, como por exemplo "calma mãe, tás stracada!" e eu não perceber à primeira tendo que fazer um esforço para imaginar o que será que ele me queria dizer, e depois perguntar-lhe "Tou stressada?" e ele olhar-me de lado (como eu quando estou com a mosca) e dizer prontamente "Sim!" e eu não me conseguir conter e deitar-me ao lado dele cansada de tanto rir.
Deixa-me continuar a poder cheirar o cheiro de bebé tão característico dele e que ainda não se perdeu, mas que um dia se irá dissipar.
Deixa-me assistir à presença dele, sossegado, enquanto me maquilho e coloco bâton nos lábios, no fim pedir-lhe um beijinho e ele me dizer com uma cara de 'blhec´: "não mãe, tens baba."
Deixa-me continuar a fazer birra com ele quando ele se porta mal, por termos feitios tão iguais e parecermos às vezes duas crianças da mesma idade a ver quem é que tem mais razão.
Deixa-me poder aprecia-lo mais vezes na praia a brincar, muito concentrado, na areia molhada com o pôr do sol como fundo.
Deixa-me perguntar-lhe mais vezes, ao fim do dia, se correu bem o dia na creche e ele acenar com a cabeça que sim, querer saber mais do seu dia e ele simplesmente me dizer "agora não mãe, estou cansado" e vê-lo fugir para o quarto para as suas brincadeiras.
Deixa-me poder dar-lhe ainda mais abraços e beijinhos, mais do que já dou, e ele limpar a cara como se eu lhe tivesse babado a bochecha.
Deixa-me assistir ao seu primeiro dia de escola quando entrar para a primária e deliciar-me com todas as novidades que irá contar, com os trabalhos da escola sobre matérias que certamente já não me irei lembrar, mas que farei um esforço para reaprender e poder ajuda-lo.
Deixa-me presenciar a sua adolescência, que é sempre complicada para todos os miúdos; porque crescer dói.
Deixa-me contar-lhe de onde vêm os bebés e os cuidados que deverá ter quando se sentir preparado para amar uma rapariga no corpo e na alma.
Deixa-me consolá-lo no seu primeiro desgosto de amor e poder dizer-lhe que nunca devemos prender os outros, se realmente os amamos, e que devemos deixar voar; se voltar é porque tinha de ser mas que se não voltar não faz mal, outros pássaros virão para voar com ele.
Deixa-me assistir à sua entrada na faculdade e à sua formatura, e chorar baba e ranho de tanto orgulho e ele me dizer "mãe, por favor, controla-te!".
Deixa-me poder abraça-lo quando ele se sentir triste, consola-lo no silêncio, sem perguntas ou porquês até que ele me queira contar, ou mesmo que não o queira.
Deixa-me conhecer a mulher que irá partilhar a vida com ele, sofrer o choque temporário do ciúme por saber que ele irá voar e criar a sua própria família, mas que depois passa.
Deixa-me conhecer os filhos que ele irá ter, que passarão a ser pedaços meus e dele.
Deixa-me segurar os netos e poder voltar a sentir o mesmo cheiro que outrora senti do pai deles, olhar nos olhos do meu filho e chorar comovida e orgulhosa pelo caminho que ele irá percorrer até ali.
Deixa-me ganhar os cabelos brancos que irão trazer a calma e a alegria de envelhecer, vendo os sonhos dele a tornarem-se pedaços de céu que descerão à Terra.
Deixa-me poder dizer-lhe biliões de vezes que o amo.
Deixa-me despedir-me dele quando for hora de partir, de sentir a mão dele apertar a minha, e voltarmos a ser um só como quando ele estava no meu ventre.
Deixa-me poder dizer-lhe adeus com um sorriso nos lábios e sussurrar "és o meu orgulho", e com toda a confiança dele, dizer-me "Vai, voa mãe. Eu vou depois."

Deixa-me fazer tudo isto e muito mais Deus, deixa-me ensinar-lhe, com amor, todas as coisas que não me ensinaram mas que aprendi com esforço.

Que o anjo da guarda dele não tire uma folga, nem por um segundo! Que a tua mão esteja sempre estendida para ele, como sempre esteve para mim!

Eu sei que andas com falta de anjos mas lembra-te, eu preciso do meu por perto porque ainda não tenho asas.
Não fossem as asas dele e eu não seria nada: apenas o céu, sem pedaços de nuvem.

Amén!




ML






segunda-feira, 30 de junho de 2014

Uma dor com nome: Judite.

Eu não conheço a Judite de Sousa sem ser da televisão. Nunca a vi muito em "cena" até porque a televisão deixou de ser, há muito tempo, a minha companheira que me atualizava sobre o que se passa no país e no mundo. Há divórcios inultrapassáveis, ponto final.
Mas não é da televisão que venho falar, nem de jornalismo (que disso percebo pouco ou nada). Venho falar como mãe de um miúdo de 4 anos a outra mãe com um miúdo de 29.

Aqui as palavras são duas: Judite e André.

Não menosprezando a dor do pai, obviamente, e não querendo dizer que um pai sente menos que uma mãe. Mas a dor de uma mãe não é só na alma; é no corpo também.

A Judite não me conhece. Provavelmente nunca irá ler este texto, no meio de outros tantos e de mensagens de apoio que lhe vão deixando. Mas, desde que li a noticia da morte do seu filho, senti esta urgência de lhe contar o que vai no meu coração de mãe que ficou mais pequenino e se compadeceu com a sua dor.
Eu tenho a sorte de acreditar em Deus. Não, não sou religiosa fervorosa que vai à missa todos os domingos, que faz oferendas à igreja ou o que quer que seja. Na minha crença (não falo em religião porque não o é, nem nunca será), eu aprendi que a vida na Terra é uma mera passagem. Que não somos mais do que espíritos que já nasceram e morreram uma infinidade de vezes, com um propósito. Que a morte foi um termo criado pelos homens para dar nome e rosto a uma mudança de estado.

Morte. Uma palavra bem escolhida não acha? Toda ela está impregnada de dor, escuridão, desespero, ausência de esperança, gritos e lágrimas. Uma palavra que só de ler, arrepia.
Mas a morte, como eu a conheço através da minha crença, é SÓ uma mudança de estado para o espírito. Que as pessoas, na verdade, não morrem. Que simplesmente passam para outro plano onde os nossos olhos (os da maioria) não conseguem chegar. Que continuam a sentir, a pensar, a amar. Tudo, tal e qual como aqui, mas noutro plano.
Posso lhe dizer que acredito nisto com toda a convicção! Mas quando penso que o que lhe aconteceu ontem pode, a qualquer momento, acontecer-me a mim eu sustenho a respiração e perco o fôlego.
De que nos serve a crença em Deus e na mudança de estado do espírito, se isso não enxuga as nossas lágrimas nem ameniza a nossa dor?
Qual é a lógica de se inverter a natureza das coisas: primeiro os filhos depois os pais? Qual o propósito?
Eu gostava de lhe poder dar estas respostas, Judite. Mas não posso. Porque eu própria não sei qual o propósito, eu própria sou limitada porque também eu sou mãe e não me imagino sem o meu filho por perto.
Mas de uma coisa eu sei; a Judite continua e continuará a ser mãe do seu filho. Sempre.
Foi a Judite que o gerou durante 9 meses, com muitas incógnitas e dúvidas; foi a Judite que com toda a força concentrada lhe deu a maior preciosidade, a vida; foi a Judite que o ajudou a crescer, amparando-o com amor e respeito; esteve lá nos momentos que ele mais precisou, certamente; foi com ele que a sua vida se tornou plena porque uma mulher ao gerar uma vida alcança o seu nível máximo de plenitude.
"E agora? O que é que eu faço sem o meu filho?", é isto que lhe vai na alma, não é? Porque é nesta expressão que penso, desde ontem, tentando colocar-me no seu lugar. Poderia mentir-lhe e dizer que consigo. Mas não consigo Judite, porque tal como para si, o meu filho é tudo aquilo que respiro; é um pedaço do meu corpo e perdê-lo equivalia a ficar deficiente por me faltar o equivalente a uma perna ou um braço ou um olho. O meu filho é também um pedaço da minha alma, e infelizmente, Deus levou o seu.
Cruel? Sim, talvez. Porque não era suposto ser a Judite a enterrá-lo, mas sim o contrário. Afinal, é essa a lei da natureza. Mas como vê, até a Natureza pode-nos trocar as voltas, portanto, isto leva-me a crer que nada tem uma ordem fixa; tudo é transmutável. Até a dor!
E a sua dor, vai alcançar um nível máximo nos próximos dias, bem sabemos. Mas depois... quando a chuva parar de cair, alguns raios de sol vão surgir por trás de uma (de tantas) nuvem e a Judite vai saber nesse dia que o André não morreu. Porque ninguém consegue matar nem tão pouco roubar um amor que habita em nós. A dor, neste momento, faz parte do processo desta coisa parva que é a morte. Mas acredite, Judite, não chove sempre!
E apesar de eu acreditar em tudo isto que escrevo, com toda a minha alma e entendimento, sei que tudo isto é uma grande merda porque não vejo nenhum propósito na morte de um filho, assim de repente, como não quer a coisa. Como se nós, mães, no fim de gerar, parir e criar, valêssemos nada.

Nem que se juntassem 1 bilião de pessoas para a abraçar... não iria cobrir o buraco que acabou de ser feito no seu peito, qual buraco negro criado no universo, eu sei.
Mas, Judite, no universo também nascem supernovas.

"A dor precisa de ser sentida", diz o livro "A culpa é das estrelas", por isso, agora é o seu momento. Sinta-a e não deixe nada por sentir, nem um fio, nem uma ponta solta! Apenas sinta.
"E depois?", pergunta. Depois, é hora de regressar a casa e reaprender a fazer uma coisa que nós seres humanos temos imenso jeito para fazer: viver.
O André? Estará sempre onde sempre esteve; em si. E quando o quiser encontrar para lhe dizer que o ama é no seu coração que ele estará, à sua espera para a receber, como a Judite o fez quando ele nasceu.
O André é o amor da sua vida, tal como todos os filhos são para todas as mães. E a morte, jamais, mudará isso.
Deixo-lhe as palavras que retive de um filme "Winter's Tale":

"E se tivesse havido um tempo em que não havia nenhuma estrela no céu?
 E se as estrelas não fossem o que julgamos?
 E se a luz que vem de longe não vier dos raios de sóis distantes, mas das nossas asas quando nos tornamos anjos?
 O destino chama cada um de nós. E há um mundo por detrás do mundo, onde estamos todos ligados. Todos parte de um grande plano em movimento.
 A magia rodeia-nos por completo. Só é preciso olhar. Olhem. Olhem com atenção.
 Pois nem o tempo nem a distância são aquilo que parecem ser.
 Quando o amor verdadeiro se perde… a vida pode esvair-se até perder todo o sentido. Ficamos vazios. Mas a possibilidade do destino permanece.
 Aquilo para que estamos destinados pode ainda ser descoberto. E por vezes, muito de quando em quando, essa viagem em busca do nosso destino pode vencer até o tempo.
 E se fossemos todos únicos e o universo nos amasse a todos por igual? Tanto, que recorreria a impossíveis, através dos séculos, por cada um de nós. E, de vez em quando, teríamos a sorte de o compreender.
 Nenhuma vida é mais importante do que outra. E nada existe sem um sentido. Nada.
 E se todos fossemos parte de um grande padrão que um dia entenderíamos? E quando um dia tivéssemos feito o que só nós somos capazes de fazer, nos elevássemos e nos reuníssemos com aqueles a quem mais amámos, abraçados para sempre?
 E se afinal nos transformássemos em estrelas?"


Deus estava com falta de anjos, e o André aceitou o desafio.




ML



sexta-feira, 27 de junho de 2014

Até onde é capaz de ir a podridão da mente humana?

Como sabem, e para quem tem interesse naquilo que escrevo, este blog é recente e aqui me propus a falar de mim: do que passou, do que fui, no que me tornei, o bom e o mau que me vai acontecendo; um blog de partilha de mim para vós. E como opiniões também são pedaços de partilha daquilo que penso e sinto, hoje venho-vos falar sobre um "texto" (se é que aquele amontoado de frases pode ser caracterizado como tal, mas deixo isso para os entendidos em escrita) acabadinho de ler num blog vizinho (que FELIZMENTE não sigo), e que dei de caras por acaso, ou talvez não.
Não conheço o seu autor, e dispenso obrigada, mas pelo que escreveu sobre um tema que me é muito familiar não só pela minha experiência nele mas também como futura psicóloga, diria que é uma pessoa que das três uma: ou tem um distúrbio de personalidade tão grande que não tem sequer a percepção disso, ou foi destituído de uma coisa que se chama "bom senso", ou então não bate bem do miolo. Se não vejamos; começando pela parte inicial do texto...

"No meu tempo não havia bullying, havia porrada, normalmente no intervalo."

Até aqui tudo bem, o senhor explicou em palavras grosseiras o que significa o estrangeirismo "bullying". Mas continuando...

"No meu tempo os campos eram de gravilha e vidros, os parques infantis de areia com cocó de cão e seringas e os escorregas e baloiços tinham ferrugem e pregos soltos prontos a espalhar o tétano. Hoje em dia é tudo almofadado, alcochoado e desinfectado."

BEM-VINDO À CIVILIZAÇÃO AMIGO!!! Andava perdido em que anos? 80? Desculpe lá se a civilização melhorou, se as condições de higiene e dos materiais proporcionaram mais bem-estar à gente que quer ser civilizada, especialmente às nossas crianças... Imagino que regressar dos anos 80 direitinho para o século 21 tenha sido uma tarefa árdua e que ainda hoje se revolte com as criancinhas (malvadonas!) que têm a sorte de poderem brincar em locais um pouco mais limpos e seguros (deviam todas apanhar tétano só por causa das tosses!) do que aqueles por onde sua excelência andou. Inveja? Parece-me que há por aí muita. Mas continuando...

"Andamos a mexer com a seleção natural feitos parvos e vamos acabar por estragar a evolução da nossa espécie."

De qual a se refere? À sua ou à minha? É que, vamos lá entender uma coisinha, o bullying não é uma "cena" natural. Para os animais sim; é mais ou menos praticando "bullying" que se alimentam e ditam as suas regras, e consequentemente sobrevivem. Apesar de sermos animais temos uma coisa que nos distingue do todos os outros: racionalidade. E tenho cá para mim que o senhor não faz uso da sua, é uma pena.
Mas pegando na sua expressão de "mexer com a seleção natural", repare só na definição de seleção natural: "o conceito básico de seleção natural é que características favoráveis que são hereditárias tornam-se mais comuns em gerações sucessivas de uma população de organismos que se reproduzem, e que características desfavoráveis que são hereditárias tornam-se menos comuns." No seu entendimento, nós, pais, somos os xoninhas porque temos as tais características desfavoráveis que são hereditárias e por isso andamos a lixar isto tudo porque andamos a cuidar melhor das nossas crianças, a protegê-las do que as possam colocar em perigo e prepará-las melhor para a vida que as espera, a torná-las mais humanas; ao invés de as deixarmos seguir as suas tendências naturais que é rebolar em areia com cocó de cão e brincar em baloiços quase a caírem e com parafusos soltos cheios de tétano (todas as características favoráveis que tornariam as próximas gerações rijas como o aço). Deixe-me dizer-lhe que além de necessitar, urgentemente de aulas de biologia sobre seleção natural também necessita de aulas intensivas de "como ser menos burro". Mas, prosseguindo.

"Se um puto ranhoso decide que se deve mandar de cima do escorrega, num mortal encarpado à retaguarda, quando nem o pino sabe fazer, e se esbardalha com os dentes no chão ou enfia um prego ferrugento no escroto, quem somos nós para impedir? É deixá-lo ir."

Se fosse pai; mais, se fosse um ser humano consciente, acredite, não diria isto. Faz parte da nossa responsabilidade enquanto seres sociais impedir que desgraças aconteçam quando estamos prestes a presencia-las. E como mãe e ser humano lhe digo que é mesmo assim! Se eu estiver num parque com o meu filho e vir que uma criança está prestes a magoar-se eu vou lá e ajudo-a e alerto os pais; e isto não é ser xoninhas, é ser consciente. Porque se fosse com o meu filho, quero acreditar que fariam o mesmo (apesar de saber que existem mais bestas ao cubo como você que "deixariam ir"). Não me diga que estava lá no dia que a Kitty Genovese foi assassinada?!
Continuando com a dissecação do seu post miserável...

"Hoje em dia uma mãe bate num puto e tem os Serviços Sociais à porta e uma professora fala alto com um miúdo e tem os pais a quererem explicações à base do punho."

Olhe que tanta generalização faz-lhe mal, pode provocar-lhe azia e lá se vai a sua oportunidade de transmitir "rijeza" aos seus pequenos póneis vindouros.
Como futura psicóloga posso-lhe garantir que isto não é assim linear: "Comé? Bateste no puto? Porquê? Levas uma berlaitada nas trombas que até arrotas a presunto!" (Isto na Buraca certo?).
Acontece sim, especialmente com pais que vivem à roda dos filhos, que não sabem estabelecer limites e protegem as suas crias contra tudo e todos, até da boa educação. Acredite, tenho um exemplo disso mesmo, mais perto do que imagina! Portanto, sei bem do que falo. Há casos e casos. Mas também lhe posso garantir que não é dar "porrada" nos putos que eles aprendem alguma coisa. Sabe o que eles aprendem? A respeitar regras e pessoas por medo, só isso. E depois quando chegam à idade da adolescência e até mesmo adulta é o que se vê: marginalismo e desrespeito pelos outros até mais não.
Quer um exemplo? Eu dou-lhe. O meu pai levou muita pancada do meu avô e ele acabou por fazer o mesmo ao meu irmão mais velho. Sabe qual foi o resultado disso? Nenhum. Sim, leu bem: NENHUM. E sabe porquê? Porque hoje, já adulto, é uma pessoa desprezível, sem respeito por si próprio nem pelos outros; foi capaz das maiores atrocidades que possa imaginar. Portanto, como vê, pancada não resultou a longo prazo. E vou mais longe: "Eu levei muita porradinha, a minha mãe chegou-me a atirar um rissol congelado, em género de estrela ninja, que se me tinha acertado era coisa para abrir lenho no sobrolho. Só me fez bem, não que merecesse, mas ensinou-me movimentos semelhantes ao do Neo no Matrix, que na minha zona dão jeito.", posso retirar desta frase que levar porrada da sua mãezinha não lhe adiantou nada, só lhe ensinou mesmo os movimentos do rapazito do Matrix. Porque, perante tal modo de escrita e conteúdo só posso extrair que educação não tem nenhuma e que caráter e bom senso lhe faltam em abundância! Mas isto já são juízos a mais para uma noite só.

Deixe-me que lhe faça uma pergunta: o que é que importa mais para si, ter crianças com a barriga cheia de pancada mas que no futuro vão ser uns marginais, ou crianças com a barriga cheia de princípios e valores transmitidos na base do amor e do respeito?! Pois. Nem vale a pena esperar que me responda porque temo que amor e respeito foi o que mais lhe faltou na infância.
Que fique bem claro, para si e para toda a gente, que a função dos pais não é "esconder" as suas crias debaixo das saias e protegê-las dos lobos maus que andam por aí à espreita. A função dos pais é dar o exemplo, porque exemplo gera exemplo, porque respeito gera respeito, valores gera valores e por aí em diante. Existem sim, pais que tratam as crianças como pedaços de cristal que não se podem quebrar, e depois têm a infelicidade de fazer figuras tristes como aquelas que fala no seu "texto". Mas não são todos assim, eu pelo menos não sou e se valer a pena pela diferença, então já ganhei o mérito! Portanto, cuidado com o que diz; generalizar não me parece que seja um exemplo credível para alguém que nem pai é, quanto mais entendido em questões de psicologia.
A culpa do bullying, caro senhor, não é das crianças (malvadonas!), é dos pais que de uma forma inconsciente ou consciente, esquecem-se que tiveram filhos e que eles não se criam sozinhos, não aprendem a ser gente sozinhos. Pois é, isto é outra coisa que vossa excelência não sabe mas que deveria ter aprendido (se tivesse estudado alguma coisa decente) é que nós humanos nascemos munidos de instintos de sobrevivência e que somos o único animal que nasce mais frágil  e que necessita de cuidados e acompanhamento durante um longo período da sua vida. Portanto, não nascemos ensinados.

E no meio de tanta estupidez junta acabou por encontrar a charada para a causa maior do bullying: a falta de amor e de compreensão por parte dos pais: "Não foi preciso grande coisa para acabar com isto, foi só convidá-lo para jogar à bola com o meu grupo e enturmá-lo. Acabaram-se os abusos porque ele deixou de estar sozinho e de ser um alvo fácil. Basta coisas destas para se acabar com o bullying.". Pois é, aqui reside a solução: o bullying não é mais do que uma mão cheia de emoções negativas concentradas num pequeno ser que nem espaço tem para carrega-las.
Encare isto como uma garrafa de coca-cola (gosta? ou isso é só coisa de crianças mimadas?): você abana a garrafa durante um certo tempo e o gás que contém vai fazendo uma tal pressão que se tem o azar de a deixar cair e ela abrir-se você fica todo molhado, embebido em açúcar que lhe vai dar uma sensação nada agradável. Assim são as crianças carentes de atenção e afeto por parte dos pais. E não me venha dizer que as criancinhas, filhas de papás riquinhos também são bullies e que isto deita por terra a minha (que em nada é minha) teoria, porque até essas têm carência de alguma coisa.
E aquele timorense que convidou para jogar à bola era uma garrafa que estava a ser abanada à muito tempo. Ainda bem que não a abriu e contribuiu para que o gás se acalmasse, nem que fosse por aqueles pequenos momentos de jogar à bola que o ajudaram a integrar-se! Valha-nos ao menos uma coisa acertada que tenha dito.

"As crianças são más, sempre foram, talvez sejam piores agora, não sei."

A sério que li isto?? Mas onde é que você (e outros que pensam assim) está com a cabeça para dizer uma coisa destas?? Virgem Maria, isto é o auge de toda a ignorância! Como é que uma criança é má?
É UMA CRIANÇA!!!! E ser-se criança é assim: tem-se o coração na boca, tem-se demasiada verdade incontrolada dentro do peito. Os pais é que são ridículos porque reprimem isso nas suas crianças, ao invés de lhes ensinarem a dizer e ser verdade sem com isso magoarem ou desrespeitarem o outro! É essa a nossa obrigação enquanto pais! Não é torná-las xoninhas; é torná-las gente.

"É verdade que com o bullying também vamos ter alguns que ficam traumatizados e com problemas para a vida toda, mas é um sacrifício necessário."

Quer um conselho? Faça um favor a si mesmo e à humanidade: não tenha filhos. Correrá um forte risco de um deles ser um dos "alguns que ficam traumatizados e com problemas para a vida toda" (e com um pai assim, a probabilidade é alta). E, acredite, seria um sacrifício desnecessário para si assistir a isso.

Um conselho aos pais que, como eu, querem o melhor para os seus filhos:  prestem atenção, cuidem das vossas crias como pedaços (que são) vossos. Eles serão tudo aquilo que vocês lhe mostrarem que não tem mal ser, eles serão o vosso reflexo no futuro, eles serão bullies se assim vós permitirdes porque os bullies somos nós pais que geramos debaixo do nosso teto. Como, perguntam vós? Simples. Carência de atenção e afeto são os principais ingredientes, o resto serão só circunstâncias até que a garrafa de coca-cola expluda.
Que sejam felizes e façam as vossas crianças felizes, conscientes de que a vida é uma roda em constante movimento; o que dermos ela traz de volta.

ML







quarta-feira, 25 de junho de 2014

E quando já nada me surpreendia...

Depois de te ter contado algumas das minhas "novidades" desde o tempo em que ficamos afastados, eis que me dizes isto:

"...Fogo passaste um mau bocado nestes últimos meses... Como é que tens o pé partido à 3 meses?! E eu não sei?! À 3 meses que não te vejo?! Como é que é possível?! E a recuperação apesar de lenta foi boa?! Tens que voltar a dançar :) "

- "...Bom, já não nos vemos à quase 2 anos. A última vez foi no dia 18 de setembro de 2012."

Em que ano estás Wilson?? Só assim, naquela, para poder entender o teu raciocínio. Como é que tu não sabes que tenho o pé partido à 3 meses? Simples. Porque à muitos mais que não nos falamos. Há 3 meses que não me vês? Epa, feitas as minhas contas (mesmo não percebendo um cú de matemática) já lá vão 2 anos!
Gostava de ter visto a tua cara ao ler a minha resposta... Foi por isso que não respondeste, eu sei. Chapar nas trombas a verdade ridícula que tu finges não ver (ou não queres, não sei) é chato.

Ups, tirei-te a oportunidade de fazer conversa bf (best friends)!

Das duas uma: ou me confundiste com outra "Márcia" (o que é altamente improvável porque respondeste-me à primeira mensagem como se soubesses quem eu era, logo, parto do principio que não apagaste o meu numero) ou então estás a gozar com a minha cara. Porque, no fundo, sempre foste assim. Afastava-mo-nos e volvidos alguns meses voltavas com conversas de treta e ladainhas cheias de saudades, como se fossemos os "best friends".
Tens que idade mesmo? É que às vezes nem dá para acreditar que és SÓ um ano mais novo que eu...

Sabes o que me custa no meio disto tudo? É que, infelizmente, não existem borrachas que apaguem pessoas da nossa vida, da nossa história. Porque se houvesse, acredita, eras o primeiro que eu apagava.
Ainda assim, apesar de seres assim, o meu coração teima em amar-te e querer-te. Não há duvidas: o amor tem razões que até a própria razão desconhece. Mas no meu conceito, isto é ser estúpido!
E agora, o que é que faço com "isto"? Pois. Nada. Absolutamente nada. Falta-me a borracha!


ML