segunda-feira, 23 de junho de 2014

Voltei a lembrar-me de ti

No último mês, tem sido recorrente. Parece que a vida está, toda ela, impregnada da tua presença, do teu cheiro, da tua voz, do teu sorriso...
É nos sonhos, em que surges sem pedir licença; invades e pronto, tudo é teu. É num concerto, seja ele qual for; basta ter letras de dor e amor. É na rua por onde eu passe e veja um casal lamechas a trocar um carinho. É na praia, sempre que lá passo de fugida ou que lá vou para me esquecer de ti. É nos trechos de poemas ou livros que leia em que tu e eu estamos lá espelhados; eu por me doeres, e tu por teres ido.
Cheguei ao ridículo de chorar com uma música que ouvi há dias, num mini concerto do fadista Marco Rodrigues, quando ele cantou o seu fado intitulado de "ausência". Tens a noção do quanto ainda me fazes mal? Já se passou um ano e meio desde a última vez que falámos, e nem sequer houve um "adeus"! Será que a minha alma, inconscientemente, precisa disso? Acaso preciso de te dizer "adeus" nos olhos para me libertar? Ou por não ser capaz de o fazer, por ainda te querer tanto na minha vida, o "adeus" de nada serviria?
É tão frustrante...Esta urgência de te amar e expulsar ao mesmo tempo da minha mente; este desespero louco de mergulhar o meu coração num tanque de água salgada para que te afogues e ele se depure; esta agonia de um sentimento com o qual não sei lidar e querer tranca-lo num cofre a sete chaves e joga-las fora para que ninguém, nem mesmo eu, consiga abri-lo num qualquer futuro.
Eu poderia impor um diálogo entre o meu "eu" consciente e o meu "eu" estúpido, a ver se toda eu ouvia a voz da razão. Mas, eu pensava que já estavas mais que resolvido na minha vida! Aliás, desde a última vez em que cortei com todos os contactos que mantínhamos, eu estava confiante que com o passar do tempo serias uma mera miragem. Mas enganei-me. E sabes porquê? Porque percebi que, durante todo este tempo, camuflei uma cura que nunca se deu.
Deveria ter-te dito "adeus" com todas as letras, de preferência na tua cara; mas como és cobarde e foges de tudo o que possa mexer contigo, nunca me darias essa oportunidade. Mas será que se eu conseguisse chegar a ti, como eu queria, seria capaz de dizer o tal "adeus" que se faz tão urgente?
"Não, tu não eras capaz de o fazer porque a tua mania é tão forte e a tua estupidez vã é tão cega que o raio do ´adeus´ nunca iria sair da tua boca, quanto mais da tua alma..." - diz o meu "eu" consciente.
"Mas ela precisa disso, de dizer adeus. Porque o adeus é uma espada que corta os laços e cordões desnecessários à nossa vida, que nos impurificam, que nos rebaixam até muito abaixo do chão." - diz o meu "eu" estúpido.
"Estás parvo?! Tu não vês que ela está cega?! Ninguém consegue viver uma vida inteira a esbanjar amor a quem já apanhou o primeiro barco e já nem do nome dela se lembra! Achas que isso lhe faz bem?" - riposta o meu "eu" consciente.
"Olha; lá que estejas munido e vacinado contra sentimentalismos, eu não tenho culpa. Compete-me a mim que ela não se torne como tu: fria e automática. Ela ama-o, e o amor, muitas vezes dói. Isto vai acalmar com o tempo." - teima o meu "eu" estúpido.
"Um ano e meio não chegou para doer? És mesmo estúpido, e estupidifica-la. Acorda!!! A vida não é uma novela nem uma história de princesas com o maldito ´e foram felizes para sempre´. A vida é dura, e há que saber seleccionar o que nos poderá trazer algo de bom e colocar no lixo o que já não serve." - remata, ironicamente, o meu "eu" consciente.
"Insensível!"
"Estúpido!"
 E se eu não estiver no meio, a moderar este diálogo, os meus "eu's" quase que se matam; ambos trazem impregnada muito pujança e se chocarem, eu perco-me.
Já viste como me deixaste? Dividiste-me em três partes ( fora os estilhaços que não apanhei e que ficaram espalhados por essas ruas sem nome, mas vestidas com outras gentes): no meu "eu" consciente que me puxa para a realidade e me tenta fortalecer com dureza e pouco sentimentalismo; no meu "eu" estúpido que por tanto te querer, me impõe uma tal carência que quase me sufoca; e no meu "eu" do meio onde tu habitas.

Tenho saudades tuas, de tudo aquilo que fui contigo e de tudo quanto pus no que dizia sentir por ti; e era verdadeiro.
Tu estás, onde não sei; mas na minha vida já não. E isto deixou de ser frustrante; passou a ser vício. Porque basta fechar os olhos para te voltar a ter na minha pele, na minha boca, no meu ouvido, a tua cabeça no meu colo e o teu cabelo crespo por entre os meus dedos, a nossa pele unificada (a minha branca e frágil e a tua que carrega nas veias o calor, numa mistura de brasil e áfrica) pelo mesmo sentido: tesão; volto a ter-te.
Decorei-te e registei-te em cada pedaço meu.
Como é que se vive sem ti? Não se vive; sobrevive-se. E isso aprende-se vagarosamente, até a poeira do tempo assentar e fazer de ti uma miragem.
Até quando? Não sei. Até Deus querer e os meus "eu's" se entenderem; até deixares de ser o meu Wilson, que em nada foi meu, e passes a ser do mundo somente, sem eu estar presa a ti; até que estas correntes que me amarram à loucura do teu nome, que me faz desviar a cabeça na tua direção sempre que o ouço em qualquer parte do mundo, mesmo sabendo que não és tu mas com a esperança que sejas, se desfaçam e passe a ser só um sussurro dorido; até que a morte se lembre de te matar em mim, te transformes numa alegoria e volte a ser Carnaval de novo.





ML



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