terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Votos para 2016

2015 foi um ano de muita mudança, começou mal mas, graças à minha fibra rija, acabou bem. Por mim, o ano poderia acabar já hoje, agora, que o meu balanço seria o mesmo; "consegui!". 2015 foi o ano mais importante da minha vida, onde me reconheci no espelho da vida, com verdade, onde comecei o ano a dizer "como é que vou sobreviver a isto?" e acabei a dizer "amo-me muito".
2015 trouxe-me, além de muito amor próprio, coragem para tirar cá para fora tudo o que me doeu por tempo demais e arrumar essa dor numa gaveta apropriada, sem vergonha ou medo de olhar para ela. Tudo o que arde cura, já dizia o meu avô. Mas tudo o que dói também, e digo-o eu.
Por norma, não costumo fazer planos para o novo ano, simplesmente tenho sonhos e são eles que me guiam.
Mas em 2016 existem algumas coisas que quero fazer.
Quero acordar todos os dias pronta para as batalhas e deitar-me com a sensação de que me dei a mim mesma o melhor, porque se dermos a nós mesmos o melhor, conseguimos dar aos outros também.
Quero rodear-me de pessoas que saibam o que querem, que saibam para onde querem ir, e mesmo que não saibam, que não tenham medo de ir à mesma.
Quero pôr os sorrisos e as conversas com as pessoas a quem muito fiz esperar, porque ainda não estava preparada para me dar ao mundo e aos outros com verdade.
Quero fazer as honras do meu coração e conduzir até à porta de saída as pessoas que só estão por estar e não almejam mais do que isso, porque eu não quero afetos em part time.
Quero passar mais tempo comigo, neste amor que descobri este ano, ir ao cinema, ver pôr de sóis, tomar um copo numa qualquer esplanada, namorar-me.
Quero brindar à vida, quero partilha-la com aqueles que queiram ficar com vontade, e ser feliz durante 365 dias. Porque um dia, quando tudo acabar, é só isto mesmo que levaremos connosco: o bem que vivermos.

A todos um Bom Ano 2016!
Um brinde a mim!
Um brinde à vida!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Um Natal incompleto

Nunca te disse mas, o meu natal sem ti não é uma festa completa. O meu natal é sempre com metade do coração aqui e a outra metade aí. Há quem diga "o tempo passa, a saudade fica e a falta torna-se subtil". Eu digo que, quanto mais o tempo passa, mais a saudade e as memórias se acentuam sem subtileza.
Tu sabes que não gosto de expor a minha saudade, não gosto de falar das poucas memórias que a minha meninice conseguiu guardar. Prefiro ouvi-las da boca de quem te viveu, até ao teu último suspiro.
Hoje voltei a ouvir as tuas memórias, a tua saudade cantada pela boca da minha mãe, outra mulher da tua vida que te amava mais do que ao próprio pai, essas memórias menos boas, aquelas de dias antes de partires, inclusive o dia em que me deixaste aqui à espera.
Cresci a ouvir "ele já vem, foi só ao café". Até hoje espero que voltes desse café para poder voltar para esse colo que era tão meu, tão nosso.
Eu sei que é sempre quando Deus quer, mas pergunto-lhe muitas vezes se não podia ter-te querido mais tarde, se não podia ter esperado até eu me fartar de ser feliz contigo aqui. A única resposta que ele me dá é mais saudade.
Aprendi que o Natal é para ser vivido com quem amamos, para aproveitarmos enquanto os corações ainda se podem tocar. Só não me ensinaram como é que se vive o natal com o coração pela metade. Ainda não sei ser feliz sem ti; vou sendo.
Na ceia de natal o teu lugar está lá, o melhor lugar à lareira também ainda está reservado para ti, a melhor taça de vinho ainda espera o teu brinde, e o teu presente... o teu melhor presente era estares aqui comigo.
Poderíamos passar a noite inteira a pôr os anos em dia, a desabafar sobre as dores que foram ficando e poderias ensinar-me como se ama além das mágoas. Poderíamos jogar os jogos que nos faltaram jogar, rir das coisas que nunca pudemos rir. Poderíamos ver as fotografias sobre as memórias que o tempo foi guardando, poderias conhecer os netos que nunca viste. Poderíamos dar os abraços que nunca pudemos dar. Poderia adormecer no embalo do teu colo que me faltou a vida inteira.
Poderia tanta coisa, mas só posso recordar-te, como todos os anos da minha vida. Poderia viver esta época do ano com tristeza no coração, cravado pela saudade. Mas tu mereces mais; mereces a minha felicidade.
O meu natal será sempre um natal incompleto sem ti aqui, mas também será sempre repleto de alegria porque as memórias, apesar de nos magoarem, também são bem capazes de manter a esperança acesa de que um dia voltaremos a encontrar-nos, e aí poderemos celebrar o amor numa eternidade sem fim.
Porque será sempre o amor que nos manterá unidos.
Feliz Natal, avô.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Nada se esquece, tudo nos transforma.

Faz hoje 1 ano que morri para voltar a nascer. Faz hoje 1 ano que segurei nas mãos a minha vida em pedaços.
Se há momento em que duvidei que sobrevivesse, esse momento foi há 1 ano atrás. Olhando bem pra lá, hoje tenho plena consciência que é preciso uma grande vontade de viver para seguir em frente, mesmo que de cabeça baixa. E eu tive-a, porque se não era impossível estar aqui a escrever para ti. Não escrevo para ti por achar que sou melhor do que tu, escrevo sim para teres a certeza absoluta de que sobreviver depende do quanto queres viver.
Não foi fácil, não tem sido fácil. Há dias em que se vive melhor, há dias em que sair da cama parece um ato banal. Mas cada dia é um desafio, e vale a pena enfrentar todos, um por um, por mim.
De lá para cá mudou muita coisa. Comecei a conhecer-me; comecei a olhar-me atentamente ao espelho; comecei a tecer os meus limites e a perceber o que para mim faz sentido e tudo aquilo que, para além de não fazer sentido, só me faz mal; comecei a aprender a dizer "não", mesmo que isso implique que poucos fiquem; também comecei a aprender a pensar sobre o "sim" e a medir consequências; comecei a respeitar-me e a pôr o dedo no nariz a quem nada de mim sabe, logo, não tem o direito de abrir a boca, sequer, para opinar; comecei a controlar os meus instintos de "dar o troco"; comecei a crescer.
De lá para cá também se acentuaram as reticências em dar o meu amor ao outro; comecei a pensar sobre o quanto vale a pena arriscar uma vida inteira por um momento, e até agora concluí que o risco não compensa a dor que pode, eventualmente, ficar. Porque há dores incuráveis, há riscos desnecessários, há estragos irreparáveis.
Costuma-se dizer que há males que vêm por bem, eu digo que há males que nos fazem bem. Para que servem as mágoas e as dores se não servirem para crescermos? Nada se esquece, tudo nos transforma.
Ainda assim, continuo a pensar que o rasto de destruição que ficou nas ruas da minha vida, era desnecessário. Mas há filhos da puta assim, e este é o preço que se paga por ter dado crédito a um.
No início sobrevive-se, é uma contagem dos minutos, das horas, dos dias, das semanas, sempre à espera que a dor diminua um bocadinho mais. Mas nem todas as dores encolhem com o esticar do tempo, porque há dores que se tornam mais conscientes e vívidas à medida que o tempo as molda.
Ficaram muitas perguntas sem resposta, muitas dúvidas quanto ao futuro; mas ficou também a grande certeza de que mereço tudo de bom do que a vida contém.
Eu acredito que o karma é infalível e que a vida é um castelo de cartas: basta um único sopro para tudo ruir, porque nem sempre os ventos sopram a favor, às vezes a rota muda. Quando os ventos sopram contra é preciso ter uma coisa que os filhos da puta e os cobardes não têm: coragem. Portanto, ver-te a ruir é uma questão de tempo, porque não há ninguém melhor para nos vingar do que a vida. E não digo isto por te desejar mal, simplesmente "what goes around comes back around".




ML







segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Às mulheres da minha vida

Hoje o diálogo é sobre, e para, as mulheres da minha vida. Não tenho muitas, é verdade, mas também é importante falar delas, e para elas.
Hoje fechei os olhos, abri o coração e meti-as todas alinhadas à minha frente.
Hoje, finalmente, percebi que entre mim e elas existem, entre muitas coisas, diferenças abismais na forma como cada uma se vê como mulher, como pessoa, na visão que cada uma tem acerca da sua vida e a projeção que cada uma faz de si no mundo.
Hoje, percebi que entre mim e elas, existe um degrau enorme. A fila não é longa, mas é o suficiente para ver que entre elas existe um padrão demasiado pesado, um padrão de onde tento escapar mais um bocadinho a cada dia que passa; um padrão em que todas elas se esqueceram de si no tempo.
Ao olhar para cada rosto, eu consigo ver os rasgões que as tempestades da vida lhes deixou, consigo cheirar a dor que lhes vai na alma, os olhos...ah, os olhos... há muito que deixaram de ser espelho de coisa alguma, de tão apagados que estão.
Desde a minha mãe, passando pelas minhas tias até chegar às minhas primas, com todas elas eu aprendo os maus exemplos que tento combater, todos os dias da minha vida. Quem disse que os maus exemplos não têm um lado bom é porque nunca amou, porque só com muito amor se pega no que é mau e se transforma em algo bom para a vida inteira. E estas mulheres mostram-me muito.
Muitas delas deixaram-se consumir pelo tempo, esqueceram-se de quem queriam ser quando fossem grandes, deixaram a criança delas fugir.
Algumas das mulheres da minha vida amaram demais, até não lhes sobrar mais nada, inclusive a própria vida. Outras desistiram de construir a felicidade, outras até lhes roubaram os sonhos.
Durante muito tempo eu aceitei o karma que me esperava, também eu assumi que a felicidade era uma utopia, que os sonhos são para ser guardados nas gavetas e que o amor deve ser deixado ir com o vento. Mas acho que a minha teimosia rebelou-se, porque há medida que o tempo vai passando eu sinto que o tempo não se instala; ele faz-me mover para a frente; faz-me explorar trilhas que sempre descartei por serem demasiado incertas; mostra-me que os sonhos e a felicidade andam de mãos dadas e que uma e outra coisa dependem, exclusivamente, de mim, faz-me acreditar que amar não significa negligenciar-me, que mais importante do que os outros, sou eu própria.
Hoje, quero dizer às mulheres da minha vida que com elas aprendo a construir-me melhor, mas também quero lhes dizer que enquanto há vida há esperança, e que o facto de se terem perdido algures no tempo, não quer dizer que não haja um caminho de volta a elas mesmas.
Não deixes que te digam o que fazer ou ser, não deixes que o amor que tens pelo outro se torne uma dependência capaz de te indefinir.
Não permitas que os outros esperem alguma coisa de ti, porque o caminho só a ti pertence.
Não aceites as migalhas, porque mereces o prato inteiro.
Não cales o que sentes ou o que pensas por medo, porque um pássaro sem voz é como uma primavera sem vida.
Não desistas de ti, mesmo que tenhas que deixar ir meio mundo e outro tanto, porque, na vida, a única garantia que tens é a ti mesma.
Lembra-te, sobretudo, que a vida é para viver.
Hoje, é a vocês, mulheres da minha vida, que agradeço as melhores lições da mulher que não quero ser.
Amanhã, espero que sejam vocês a aprenderem a ser a mulher que nunca deviam ter deixado de ser.


<3

ML















terça-feira, 3 de novembro de 2015

Ainda há

Há sempre o nós a pairar nos recantos dos meus sonhos e os "se's" no horizonte dos erros mútuos.
Os medos, esses infames que insistem em roubar-nos de nós, não são dignos de serem mumificados naquilo que fomos.
Uma história mal acabada é como um cigarro mal apagado; tudo o que ficou foi meio aceso.
Ainda há o nosso beijo ausente, os corpos vestidos demais para destilar tanta fome, a boca que é tua e nunca lhe pertenceu, o telefone à espera das nossas noites e da distância armada em rainha.
Ainda há as pazes mal feitas e as tréguas dispersas na cama onde me deito.
Ainda há o teu medo mesclado com o meu que atiça, minuto a minuto, o desgosto de não nos termos como se fosse a última vez.
Ainda há a jura do "nunca mais" que deixamos junto à fonte, onde o íman que nos une foi mais forte.
Ainda há a minha pele que sem a soma da tua se tornou mera divisão.
Ainda és tão tu. Ainda sou tão eu.
Faltamos nós.
Falta ainda reescrever o amo-te que sempre nos segurou todas as pontas.
Falta recomeçarmos.
Na tua vida ou na minha?



ML

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O perdão

O perdão é uma coisa complexa que todos têm a capacidade de dar, mas poucos o sentem. O perdão não é algo inato, algo que se adquire com os genes; é um processo, muitas vezes lento.
O perdão não se encontra em qualquer rua ou esquina, quanto muito encontra-se numa rua sem saída. É sempre nas ruas sem saída que damos de cara com aquilo de que andamos a fugir quase uma vida inteira.
Foi numa dessas ruas da minha vida, sem saída, onde encontrei o perdão e o olhei de frente. Quando encontras o perdão de frente só tens duas hipóteses: ou recuas e entras numa viela qualquer, deixando-o para trás, correndo o risco da mágoa assombrar-te o resto da vida, ou te sentas para conversarem até chegarem ao consenso da paz. Acredita em mim que já optei pelas duas, a segunda opção é sempre a melhor.
Conversar com o perdão não é fácil. A linguagem que ele usa é demasiado complexa para entender, por vezes é confundida com outros dialetos como a raiva ou a vingança, mas a sua essência é só uma: desapego.
Que melhor linguagem poderia definir o perdão que não o desapego? Para perdoar é preciso sentar, olhar para dentro e conter a projeção do veneno que um dia nos deram a beber de olhos abertos.
Quem de vós pensar que só é possível apegarem-se às coisas boas que os outros vos dão, desengane-se. A ausência de perdão vem do apego que nós temos pelo mal que os outros nos fizeram.
A facilidade com que nos apegamos à mágoa é a mesma com que nos apegamos ao amor. Irónico não é? Toda a vida nos ensinaram a sermos bons com os outros, a pedir desculpa quando erramos, a assumirmos os nossos erros. Mas esqueceram-se de nos ensinar a perdoar.
Durante muito tempo eu vi o perdão como uma utopia, algo que vem escrito nos livros e que é pregado na maioria das religiões, e o que sempre me revoltou foram as definições evasivas que fui encontrando porque, na verdade, nenhuma delas tinha a receita para perdoar quem me foi magoando ao longo da vida. Basicamente, cresci com a certeza que perdoar era para os que foram talhados para serem totós, até ao dia em que a mágoa que me causaram tornou-se tão insuportável, tão destrutiva, tão asfixiante, que me obrigou a buscar o perdão.
E onde é que se o encontra? No recanto do coração que escapou da escuridão. Por muito negro que um coração se torne, há sempre um recanto inviolável onde existe uma janela por onde entra uma luz tamanha, capaz de iluminar um planeta inteiro; um recanto chamado vida.
Por muito miserável que te sintas, a verdade é que existe vida em ti, se não estavas morto. E sempre se ouviu dizer "enquanto há vida, há esperança". Portanto, são nas lições da vida que encontras o perdão.
Como eu disse acima, o perdão é um processo de desapego de tudo aquilo que de mal te fizeram. E foi no meu processo que eu entendi o que era o perdão.
O perdão não significa que esqueças o que te fizeram, não significa que te deites hoje e que amanhã vais acordar com um sorriso no rosto e ter esquecido o que aconteceu. O perdão não significa que tenhas que estar com quem te fez mal, não significa que os culpados saiam impunes porque para esses a justiça está reservada, mais tarde ou mais cedo.
O perdão passa por aceitares o que aconteceu, guardares as lições que tiveres que guardar e aprenderes a viver com isso.
O perdão é a chave para abrires a porta do recanto inviolável do teu coração, abrires a janela e deixares a luz definir a tua paz.
Eu ainda estou a caminho. Já abri a porta e estou, neste momento, a passar por todas as salas escuras que me deixaram; com medo sim, mas com a certeza de que voltar para trás não é opção e a convicção de que quando me banhar na luz que eu sei que vive aqui dentro será como voltar a casa, o lugar onde mereço viver em paz.
No meu vocabulário de hoje, o perdão define-se como um contrato de aceitação estabelecido entre quem fica e quem vai; e eis aqui o segredo para um mundo mais feliz.




ML

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Carta aos manipulados

Tu que estás aí desse lado, com um grito preso no teu silêncio; tu que estás aí e que sentes que pior do que ter morrido é ir morrendo; hoje, as palavras que aqui escrevo são para ti.
Tu não me conheces, eu não sei quem tu és, mas ambas somos filhas da mesma dor, a da manipulação.
Provavelmente irás fechar esta janela por falta de coragem de ler até ao fim, ou talvez eu consiga fazer por ti o que ninguém conseguiu fazer por mim. Mas antes que decidas fechar a janela e seguir em frente, deixa-me dizer-te que eu sei o que estás a sentir porque eu já aí estive, e que a maior lição que reti até hoje é que fechar os olhos àquilo que nos dói tem um prazo de validade.
Se decidires ler isto até ao fim, recosta-te e respira fundo porque vai doer mais um pouco, mas talvez seja a última vez que doa..
Deves estar a perguntar-te "o que lhe aconteceu a ela?". Talvez um dia eu te conte os pormenores, mas o que precisas de saber apenas é que eu já fui severamente manipulada e que o que interessa aqui não é o que ele me fez, mas sim como me senti e como saí dessa história.
Agora deves estar a questionar-te "mas é possível sair disto?", é, claro que é. Mas é preciso que queiras muito e que aceites deixar cair no chão os cacos que seguras, desesperadamente, nas mãos e que todos os dias te rasgam a alma. Sair dessa história é a mesma coisa do que uma criança aprender a andar; é preciso cair para aprender a levantar, por isso não te preocupes porque vais-te levantar.
"E vai demorar muito para isso?", sim vai. Os dias, os meses, e talvez até anos, vão passar e a dor vai continuar a estar bem presente na tua memória para que nunca te esqueças daquilo que te fizeram; pensa positivo, é como uma cicatriz que fica para nos lembrar que ainda estamos vivas e que se aquilo não nos matou é porque, com certeza, ficamos mais fortes.
"De que me vale isso, se tudo o que eu quero é esquecer?", perguntas tu. E eu digo-te que és parva e que a merda que ele te faz todos os dias ainda não foi o suficiente ainda para aprenderes. Se tu esquecesses, não irias enrijecer o teu amor próprio e mais à frente outro bimbo iria voltar a fazer-te o mesmo.
Eu sei que estás farta de aturar isso, sei que a tua vontade de viver, a pouco e pouco, vai sucumbindo mas que mesmo assim arrastaste até ao fim do mundo para vos salvar aos dois, afinal sempre acreditaste que o amor salva tudo.
Também sei que a urgência de resgatar os tempos áureos em que tudo eram rosas e borboletas a voar te fez colocar em stand by tudo aquilo que fazia parte da tua vida e que sempre foi importante; puseste-te em stand by, basicamente.
"Mas se isso o trouxer de volta, terá valido a pena.", tens a certeza? Achas mesmo que ele voltando para ti e voltando a ser tudo como os bons tempos, as mossas desaparecem? Depois de um acidente brutal, um carro, mesmo depois de reparado, nunca mais volta a ser o mesmo, vai sempre dando problemas. Não, não te estou a comparar a um carro mas sim a dar-te exemplos para que, no auge da tua fragilidade, percebas o que te quero dizer.
A manipulação é uma teia que vai sendo tecida pelo manipulador à volta da vítima. É uma teia subtil que começa sempre pela maior fragilidade da vitima, sem que esta se sinta mal ou invadida. Por norma, o manipulador consola sempre a maior fragilidade da vítima para que ela comece a confiar nele, até ficar cega e presa.
Foi isso que aconteceu comigo. É isso que está a acontecer contigo.
Não sei há quanto tempo vives nessa teia mas acredita que 10 minutos apenas já é tempo demais.
Eu sei que acreditas que o que ele faz não é por mal, mas também sei que já estás a chegar ao teu limite e ele, ao perceber isso, promete-te que vai ficar tudo bem, que vai repensar a vida dele toda para vocês poderem ficar juntos, que precisa de algum tempo para pensar, tudo para que aguentes mais um bocadinho. As promessas dele vão-te dando alguma esperança, vão alimentando os teus dias de espera porque acreditas que ele também está a sofrer por te ver sofrer.
A verdade é muito mais dura do que aquilo em que acreditas, e eu sei que, no fundo, tu também o sabes.
Em primeiro lugar, entende que ele não sofre por te ver sofrer, porque se o magoasse ver-te assim, simplesmente ele não contribuiria para isso. O amor consola, não magoa.
Entende que quando olhas nos olhos dele a verdade que vês sobre o que sentes é a tua não a dele, e o amor que lhe tens é tão imenso que te faz acreditar nas promessas vazias que ele te faz. Tudo não passa de um jogo onde ele suga tudo aquilo que tens e és, por ele próprio não aguentar aquilo que nunca conseguirá ser ou ter, e até que lhe faças xeque-mate, continuarás a ser o alimento do ego dele.
Desculpa dizer-te isto assim, sem filtros, mas tudo se resume ao ego dele em que tu és quem o alimenta. Experimenta deixa-lo abandonado à sua sorte por um dia, e vais ver que ele vai cair no chão, vai-te procurar como um louco e queixar-se como uma criancinha rejeitada.
Talvez tu não saibas, mas o manipulador é o ser mais inseguro à face da terra com uma necessidade brutal de controlar tudo e todos, o manipulador não suporta a sua realidade interna e por isso fantasia e cria uma realidade à parte onde ele subjuga as fragilidades dos outros. Isola o manipulador das pessoas e verás unicamente um ser aninhado em si mesmo, todo acagaçado. O manipulador não suporta a solidão, a rotina, o incerto.
Ao olhar para ele, tu podes ver que todo ele transpira confiança mas, acredita em mim, é tudo cenário. Por trás daquilo só existem fantasmas.
A escolha de te livrares dessa toxicidade ou continuares a acreditar em promessas vazias, é tua. Eu sei que as coisas não são simples e que até para rebentar uma corda é preciso que ela se desgaste. Mas já não estás desgastada o suficiente? Não achas que já chega de te olhares ao espelho e sentires-te miserável? Já não basta as vezes em que ele te faz sentir culpada pelas discussões que têm, ou até mesmo se tiver um dia mau? Pensa nisso.
Lembra-te, se decidires quebrar com essa toxicidade, quebra de uma vez. Não deixes nada por dizer nem pontas soltas.
É óbvio que não vai ser fácil; ele vai tentar dar-te a volta e acrescentar mais promessas às que não cumpriu. Prepara-te para as coisas horríveis que ele vai ser capaz de te dizer e para as desculpas sórdidas que te vai pedir, logo a seguir, como se fosse um bipolar. Ele vai vitimizar-se ao máximo, chegando ao ponto de se humilhar a ele próprio e quando vir que esse fingimento de nada lhe serve vai jogar a última cartada; culpabilizar-te pelo facto de seres tu a desistir de vocês e de as coisas não terem resultado porque ele está ali disponível para ti, com vontade de enfrentar este mundo e o outro por ti, quando tu nunca lhe pediste mais do que respeito e amor.
"E o que acontece quando eu lhe virar as costas?", perguntas-me. Primeiro, não olhes para trás. Depois cais ao chão e transformas-te em estilhaços espalhados pelas ruas da amargura. A melhor coisa será deixares-te estar até que o choque desça em ti, com toda a intensidade que o momento merece, depois é dares-te tempo para que a raiva, a culpa, a incredulidade, o ódio e a sede de vingança venham ao de cima.
O meu conselho é que te agarres a alguém capaz de te amar o suficiente para ficar ao teu lado e ser o teu escudo onde irás projetar todos esses sentimentos negativos em relação a ele e a ti mesma, alguém que te chame à razão e que te relembre, a toda a hora, que mereces muito mais do que perder tempo em vingares-te de um pobre diabo que, a seu tempo, irá cair sozinho. Acredita que foi o ter esse "alguém" que me salvou de cair no abismo, quando eu ganhei a minha coragem de o mandar embora.
Mas mais importante do que o expulsares da tua vida, é aceitares. Aceitares que te perdeste algures no caminho, aceitares que tiveste a tua quota parte de culpa ao desrespeitares-te e permitires que alguém te fizesse o que ele te faz; aceitares que nunca mais serás a mesma e que confiar nos outros será, para sempre, uma utopia. Aceita e segue, mas nunca te rendas! Projeta o amor que tens aí dentro naquilo que realmente importa: tu. Acredita que é possível sobreviver a essa catástrofe que é a manipulação, ou então eu não estaria aqui sentada a escrever-te. Simplesmente terás dias melhores que outros; terás dias em que vais acordar furiosa contigo, terás dias em que te arrependes de não te teres vingado dele, haverão dias em que a cicatriz dói mais, mas tudo se ameniza porque também haverão dias em que vais acordar pronta para viver e seres feliz.
O Universo tem carência de ti, portanto dá o teu melhor enquanto existires, porque um dia ele devolver-te-á em dobro.



ML












sexta-feira, 24 de julho de 2015

Amar demais

Amar demais não é motivo de orgulho, não é um ato altruísta, não é um ato heróico. Amar demais é um suicídio lento, morre-se e é-se assassinado aos poucos, pelas suas próprias mãos e pelas do outro.
Amar demais implica que alguém (se) ame de menos;  numa guerra a dois há sempre um que perde. E a perda pode ser catastrófica; perder-se para nunca mais ser-se o mesmo.
Eu já amei demais.
Na altura eu achei que a pessoa merecia, achei que o meu excesso de amor podia compensar a falta do amor dele, que o meu altruismo podia provar-lhe que eu merecia mais do que restos do seu amor próprio em excesso, achei que se lhe mostrasse o meu cansaço por tanto o amar bem que eu passaria de "mulher a dias" a "mulher a tempo inteiro". Mas nada valeu, nada foi o suficiente. Na verdade, nada é suficiente para quem não é o suficiente na vida.
Em nome do amor vendi-me de corpo e alma a um corpo vazio dela, e o troco que recebi foi um coração em pedaços jogados nas ruas da amargura e isso, nem 1000 anos chegam para os recuperar.
Um vaso, quando se parte, nunca mais volta a ter a mesma forma por muito que boa cola una todos os pedaços. Ficam sempre frestas à vista, falta de lascas, de cor e brilho. Assim é um coração partido; um vaso que ao partir-se fica frágil para sempre.
Mas além do coração há o problema da alma porque essa, nem com cola lá vai. A alma é um livro onde escrevemos aquilo que somos e os outros acrescentam virgulas e pontos finais como parte do enredo. E num livro, por muito que se rasguem páginas e se recomece a escrever, a marca do que foi escrito fica sempre por baixo do que se reescreve. Portanto, nada se apaga, apesar de tudo se transformar.
E a transformação para quem ama demais começa no despertar. É o despertar mais doloroso, sem dúvida, mas é aí mesmo que começa; na dor. Porque a dor faz bem à saúde, faz crescer. Quando nos dói é sinal que ainda estamos vivos, não importa se em pedaços, se quase a morrer, não importa. Estamos vivos. E a vida é sempre digna de recomeços.
Aquilo que aprendi com o ter amado  demais foi que, por muito que nos dilacerem e amassem a alma como se fosse um pedaço de papel, ninguém a consegue roubar. Podem-nos levar o que de melhor somos, podem sugar-nos até caírmos rendidos no chão e não termos coragem sequer de levantarmos a cabeça, podemos ficar com um coração estilhaçado na palma das mãos, podemos sentir-nos desalmados como se já não nos reconhecessemos ao espelho, mas a alma, essa, é nossa até que a morte do corpo a separe.
Amar demais também me ensinou a perceber o porquê de me amar de menos e a dar o passo para fazer as pazes  comigo mesma, ensinou-me a perdoar a vergonha que ele me deixou por me ter desrespeitado a mim própria tantas e tantas vezes, ensinou-me que o melhor antídoto para o amor a mais é olhar o outro de frente e nunca de baixo para cima.
Para ti que amas demais, espero que entendas que a culpa não é dele/a por te sentires insuficiente, a culpa é tua por permitires que ele/a ainda aí esteja a alimentar-se com o que de melhor és e tens porque acredita, se não tivesses nada de bom ele/a já não estava aí, já teria procurado alimento para o seu ego pequenino noutras bandas. Ele/a faz-te sentir miserável e de que não precisa de ti, como se tivesse um ego do tamanho do mundo mas acredita em mim, se o deixares ir irás ver que o ego dele cabe na palma da tua mão e que se o amassares e mandares ao chão vais vê-lo de joelhos a implorar-te até pela própria vida. Deixa-o/a ir e verás como tenho razão, e não te preocupes com o trolóló do "eu mato-me se não ficares comigo", eu também ouvi essa e 1 mês depois ele já tinha um pescoço novo para sugar (coitada...).
Lembra-te, amar demais é como dar de beber ao deserto. Espero que não morras à sede, como quase eu morri.


ML

sábado, 13 de junho de 2015

Apetece-me falar disto: #a escola, os pais e as novas férias

Tenho para mim que portugal ou já ensandeceu ou está por um fio de ensandecer. E porquê? Bom, o porquê está aqui e vem na sequência da aprovação de uma recomendação, por parte do conselho de escolas, de que os alunos devem ter uma pausa a meio do primeiro período, recomendação essa que o Sr. Jorge Ascensão (presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais) criticou. E não só criticou como ainda aproveitou a onda para sugerir algo absurdo.
E então, o que é que o Sr. Jorge disse? Primeiro criticou as "pausas avulso" que as escolas praticam, segundo ele, e ainda teve a lata de dizer (sim, porque um pai para dizer uma coisa destas além de estupidez crónica tem que ter tomates) que "as aulas deveriam começar no início de setembro e terminar apenas no final de julho", sendo que os alunos só teriam direito a um mês de férias. 
Ora, antigamente, ainda no meu tempo de menina e moça, fazia-se uma paragem de 1 semana por altura dos finados. Bons tempos! Eram tempos de ir para casa dos avós (porque os pais tinham que trabalhar), de muita algazarra com sabor a liberdade por não estarmos sempre sob a alçada dos pais e podermos desfrutar dos mimos que estragam qualquer um, mas que sabe tão bem. Agora, 2 dias de pausa no primeiro período? O que é isso? Nada. Mas o drama parental já começou!
O que mais se ouve nos media, aquando do início das férias, é "ai jasuuuuus onde é que vou enfiar os putos para poder ir trabalhaaaaar?" como se fosse o mundo acabar ali. Acredito que para alguns pais que não têm os avós das crianças por perto seja, de facto, complicado pensar nas férias com a tranquilidade que elas merecem mas afinal, férias são férias porra! E não são só os adultos que ficam felizes com elas, as crianças também. Mas daí a sugerir que as crianças só devem ter um mês de férias?! Aí já estamos a bater em vários patamares, um deles é a desumanidade. 
O Sr. Jorge diz que tem receio que as escolas comecem a ter mais pausas do que aulas. Oh Sr, por acaso sabe fazer contas? Parece-me que não, mas eu dou uma ajudinha. As crianças, por norma, têm aulas num período das 9h às 17.30h durante 5 dias por semana, o que equivale a 42h 30 min,  sem contar com os raros feriados que se metem pelo meio, porque os feriados estão para o ser humano como os burros para o mundo: em vias de extinção. Ou seja, uma criança de 6 anos passa mais 2h 30min na escola, por semana, do que um adulto em horário laboral estipulado por lei. Contas feitas, e já contando com as pausas existentes no período escolar, uma criança passa 9 meses em aulas. Oh Sr. Jorge, 9 meses não chegam para cumprir os programas estabelecidos pelo ministério da educação?! Olhe que 9 meses dá para muita coisa! Até para gerar um filho, que é a coisinha mais complexa que existe à face da vida humana. Agora, se os programas não são cumpridos, há que reformular sim a educação, mas comecemos pelos professores e não pela parte mais fraca, os alunos. Um professor é muito mais do que um "despeja matéria", um professor é um guia, é um tutor, é como uma locomotiva de um comboio; se ele descarrila vai tudo atrás. Mas um professor não tem (nem deve!) a obrigação de representar um papel que não lhe cabe: o de ser pai. 
Portanto, dizer que as crianças devem ter mais aulas é o mesmo que estar a delegar a responsabilidade de 20 ou 30 cabeças a uma só. Não dá, é desumano, é estúpido. Um professor quando se licencia não é para servir de babysitter, é para instruir e delegar outra coisa, sem ser afetos e cuidados: saber. Os afetos é responsabilidade dos pais, ou pelo menos deveria ser. 
Outra coisa que o Sr. Jorge disse e, desculpe-me a ousadia, mas não pude deixar de me rir "bué", foi que os alunos "podem estar na escola sem atividade letiva, sem estar a estudar o programa curricular. Os miúdos precisam de respirar a escola sem ser dentro das paredes de sala de aula. Tem de haver um envolvimento com a biblioteca e com os espaços exteriores". Oh Sr., o Sr. decida-se! Atão primeiro diz que as criancinhas precisam de mais aulas para se cumprirem os programas curriculares, depois já diz que elas têm que "respirar" a escola (como se ela fosse alguma flor) e tem que haver um maior envolvimento com os espaços e o diabo a sete. Desculpe-me a franqueza, mas creio que o Sr. anda à procura de depósitos fáceis para os pais despejarem os filhos quando não lhes dá jeito ficarem com eles, e não de melhorar qualquer coisinha na educação escolar deles. Se é para isso, o Sr. tem que fazer outra proposta; o de não se ter mais filhos.
O Sr. tem razão quando diz que é preciso haver um maior envolvimento dos alunos, mas não é com a escola, é com a família. 
Basta pegar nos estudos (comprovados! não é de faz de conta) que por lá e por cá se fazem e, facilmente, poderá verificar que o sucesso escolar também está relacionado com a qualidade de afetos e cuidados despendidos pela família. Porque um aluno com mais horas de escola não é, com certeza, um aluno mais inteligente e feliz.
Ora, se um aluno passa mais tempo na escola do que com a família, alguma coisa está mal. O Sr. acaso gostaria de que o obrigassem a ter só 2 semanas (em vez de 1 mês) de férias e lhe alargassem o período de trabalho? Mesmo que o seu chefe justificasse tal decisão como "ter que respirar e se envolver com o seu espaço de trabalho"? Não faz sentido, certo? Acredito que há dias em que chega a hora de almoço e o Sr. só pensa em ir para casa por estar farto de ali estar, de aturar quem não lhe apetece e, sobretudo, farto de estar fechado no mesmo sítio horas a fio. Porque é que acha que com as crianças, em relação à escola, é diferente do que se passa com os adultos? 
Os filhos, na minha prespetiva de mãe, não foram feitos só para se dizer que os temos ou para satisfazer as convenções sociais do namorar-casar-procriar. Os filhos são um pedaço de nós, são uma extensão do melhor que temos e somos, ou pelo menos deveria ser assim. Os filhos são como flores que devemos cuidar bem para que um dia se tornem árvores bem enraizadas e frondosas. E isto, caro Sr. Jorge, não são palavras bonitas que uso para o convencer. É a realidade! Os seus filhos, os meus e os dos outros pais, serão os adultos de amanhã. Se ensinarmos os filhos a serem máquinas de produção de qualquer coisa, temo que no futuro teremos uma sociedade de humanos robotizados desprovidos de qualquer sentimento e que só servem para fazer dinheiro e alimentar o ego dos grandes. 
Não foi para isso que eu trouxe filhos ao mundo Sr. Jorge! Eu não quero ver os meus filhos tristes, frustrados, como se carregassem o peso de uma sociedade mecanizada onde o período de "trabalho" é muito maior do que o período de viver e ser feliz. Eu gosto de ter férias, adoro. E acredito que o Sr. também goste. E sei que o meu filho e os seus também, mesmo que eles ainda tenham uma ideia muito rudimentar do que são férias e para que servem. Mas... não é esperado que eles saibam tudo de uma vez, não é esperado que eles entendam coisas fora do tempo. Não se pode esperar que uma criança de 6, 7 ou 8 anos valorize as férias como um adulto de 20, 30 ou 40 anos. Mas ainda assim, mesmo que eles não entendem o valor delas, merecem-nas. Tal como o Sr. que trabalha a maior parte do ano e quando vai de férias também sente que as merece. 
Os filhos não são máquinas de acumular e produzir conhecimento, não é isso que irá torna-los mais competentes e felizes na adultícia.
Agora, aquilo que os pais transmitem e dão aos seus filhos, isso sim irá contribuir tanto para o desenvolvimento das suas competências como para a sua felicidade.  
A escola é um lugar para aprender, sim, mas muito mais do que ler, escrever e fazer contas. A escola deveria ser também um lugar para expressar como ser feliz, como se ama. E isso é uma lição que deverá ser aprendida em casa, com os pais. 
Ora, se as crianças já passam cada vez mais tempo distanciadas da família e com menos tempo de brincadeira, com menos 1 mês de férias chegamos ao culminar de lhes roubar o direito de serem crianças para lhes incutir o serem adultos em ponto pequeno. Porque, caso o Sr. não saiba, também se aprende e se cresce a brincar. 
Cada vez se fala mais em hiperatividade, cada vez mais se medica crianças de ânimo leve devido a distúrbios mentais, cada vez mais vemos crianças frustradas e deprimidas. Isto não lhe diz nada? Talvez seja só até ao dia em que um dos seus filhos entrar pela porta de casa e o mandar à merda e dizer que está farto de si, dos outros e do mundo, e depois você o acusar com a frase célebre de "não foi assim que te eduquei", quando na verdade até foi, quando na verdade foi você que o motivou a encher o saco com carência, com incompreensão, com estudo a mais e amor a menos. Depois leva-o a um psicólogo ou a um psiquiatra à procura da solução para o problema, e nenhum deles tem a coragem de lhe dizer "a culpa é sua" porque o capitalismo está pela hora da morte, e tal como o Sr. se quer aproveitar da escola para se livrar da responsabilidade parental desculpando-se com "tenho que ganhar a vida", também os profissionais de saúde têm que ganhar a deles, nem que seja à custa da desgraça dos outros. 
Portanto, desejo, sinceramente que as entidades superiores a si não lhe dêem ouvidos. Para bem dos seus filhos, dos meus e de tantos outros pais que se recusam a ter crianças mal amadas e escravas da escola. 
Para si, só tenho mais uma coisa a dizer: tenha juízo.


ML



quarta-feira, 10 de junho de 2015

Apetece-me falar disto: #obesidade

Este post vem na sequência de uma "polémica", mais ou menos acesa, entre mim e umas pessoas que estão, neste momento, em processo de perda de peso. A polémica veio acerca do que uma certa personagem disse aqui e à qual eu reagi.
A minha indignação começou logo pelo facto da concordância com o "artigo" por parte dessas mesmas pessoas, mas no fundo essa concordância não parece, de todo, surreal, mas já lá vamos.
Começando pelo "artigo"; só o título do discurso assusta, e essa foi a minha "parte 2" de indignação. Se não vejamos, primeiro a personagem defende que uma pessoa gorda não deve ser gozada por isso mas depois a seguir intercala o discurso a dizer que o obeso tem que ter vergonha pra mudar (?). Oi? Já não basta aquela que é incutida pelos olhares da sociedade, cheia de estereótipos macabros acerca dos padrões de beleza, como se o gordo tivesse uma espécie de lepra? Já não chega o sofrimento de quem é obeso e passa pelo processo (às vezes desesperante) de emagrecimento, muitas vezes sem apoio algum? Já não chega a vergonha de si mesmo que o obeso vai acumulando, juntamente com os quilos a mais? E a vergonha, é muito mais do que ouvir "ólhame práquela gorda!". A vergonha de quilos a mais, quase sempre, vem agregada a outro tipo de vergonha: a de ser quem é.
Portanto, para mim, alguém que diz (e outros que defendem) que "é preciso passar vergonha para mudar" é uma variante de um xenófobo. Eu cheguei a ler uma opinião justificativa para o discurso do artigo como algo do género "ele diz que não se deve humilhar nem gozar uma pessoa gorda, mas que no fundo se deve fazer liberta-la dos mecanismos de defesa que usa e incentiva-la a mudar".
Clap clap clap, palminhas pra ela porque, o que poderá ser melhor do que um incentivo para alguém gordo qu'safarta, de quem não se conhece a história, do que estimular-lhe a vergonha? Só se for tortura-la à moda da inquisição porque, assim de repente, não me ocorre outro melhor incentivo.
Ah, mas a história de vida do gordo conta para o peso? Não, conta a história do peso, é diferente.
Mas, continuando, e seguindo a sequência da polémica, também li algo do género "o problema é que se extremaram posições: de um lado os fat haters, gente que sente nojo até de um pneusinho, e gente que vai para o pólo oposto, o do love your curves, quando muitas vezes não são curvas porra nenhuma, são mesmo 40 ou 50 kg a mais". Bom, curvas são sempre curvas até porque nunca vi um gordo liso! Eu pelo menos estou (é diferente do ser) gorda e só vejo curvas, não há nenhuma espécie de achatamento em mim. Agora se são curvas apreciáveis ou desapreciáveis, depende dos gostos de cada um.
Mas o grande problema neste comentário, e que reflete bem a realidade do obeso, não é a de "amar"40 ou 50 kg a mais, aqui o grande problema (senão o central) é não SE amar com 40 ou 50 kg a mais. Será que se o gordo, numa tentativa de deixar de se "odiar"e carregar a vergonha ao peito, perder esses 40 ou 50 kg a mais, vai passar a amar-se mais? Se calhar se ele se amasse talvez nem gordo fosse...
Vamos lá ver se nos entendemos, um gordo não é gordo porque quer! Há toda uma história de vida por trás, todo um sofrimento profundo que, na maior parte das vezes, não se vê e o acumular de quilos é só uma consequência disso. Raras excepções, ninguém engorda até à obesidade mórbida porque quer ou porque se acha sexy no meio de banhas e celulite. Há motivos, há razões fortes que o justificam. Agora, o gordo deve esconder-se atrás dessas justificações, atrás da sua história sofrida para continuar a afogar-se em comida? Não, obviamente. Mas a perda de peso é um processo doloroso e moroso. Tal como ninguém engorda do dia para a noite, também ninguém emagrece.
Mas não posso deixar de falar dos "fat haters". Esses coitados que não sabem que pela boca morre o peixe. Em tempos, no auge dos meus 12/13 anos, na escola havia sempre meia dúzia de anormais que me chamavam gorda e balofa e coisas do género. Até que um dia... (mais recentemente, diga-se) descobri que uma dessas personagens engordou de tal forma que hoje é também um obeso na luta contra o excesso de peso. Ou seja, morreu pela boca, porque agora também ele sabe o que é sofrer com o excesso de peso. Sentir na pele é outro nível.
Portanto, queridos/as fat haters que me possam estar a ler desse lado: pensai bem antes de abrir a boquinha, porque um dia, fatalmente, ela faz-te "game over" e depois ou "insert'as" coin ou então vais ser gozada como hoje o fazes.
Mas voltando ao "artigo", outra parte interessante foi a parte da propaganda da gordura nas redes sociais. Se esta besta usasse os neurónios, nem que fosse só um bocadinho, iria perceber que o objetivo dessa propaganda não é incentivar as pessoas à obesidade e aos problemas de saúde que dela advém. O objetivo é fazer com que as pessoas se aceitem, seja qual for a condição em que estejam, é incentiva-las a amarem-se tal como são porque a mudança é aí mesmo que começa: cultivar o amor próprio. Não são menos 40 ou 50 kg que vão fazer com que o obeso se ame mais, que se respeite, que se dignifique, que se ache alguém com valor e liberdade para viver. Sim, porque é isso que a vergonha faz; impede-nos de viver; não vou à praia porque tenho vergonha das minhas banhas e da minha celulite, não vou sair à noite com os meus amigos para não ferir as vistinhas de alguém, não vou comer uma fatia de bolo de anos porque as pessoas vão olhar pra mim como alguém asqueroso, não vou maquilhar-me porque só as gajas boas é que têm esse privilégio, não vou vestir-me de forma sexy porque gorda qué gorda tem que vestir sacos de batatinhas (vivásburcas!), não vou usar biquíni porque isso é uma afronta às gajas bouas comómilho. E depois, quando se perde o excesso de peso? Não vou à praia porque estou flácida e tenho estrias, não uso camisolas mais justas porque o pneu não desapareceu, não vou comer um bolo porque depois sonho com as formigas a comerem-me à noite. Vergonha gera vergonha e nunca se sai daí.
Em suma, gorda qué gorda tem que ir para o corredor da vergonha cumprir pena e só depois de emagrecer é que tem direito à liberdade.
É surreal que se defenda a vergonha pelo excesso de peso. E mais surreal ainda é ver gordas a defenderem esse prisma! Mas, tal como disse acima, não me surpreende que assim seja. Afinal, muitas delas parecem iô-iôs, ora engordam ora emagrecem e depois criam ruas de amargura e atiram-se para o meio delas. Afinal, não são só os gordos que arranjam (ou precisam) de justificativas para não mudarem e continuarem a acumular quilos e a sofrerem de sorriso no rosto até (alguns) saírem pela porta do suicídio.
Afinal também os gordos que estão no processo de emagrecimento se agarram à vergonha que trazem como justificativa para mudarem, mesmo que isso implique viver anos e anos a jogar ao iô-iô com palas nos olhos e mais nada coubesse no seu conceito de felicidade senão a magreza.

ML





sábado, 21 de março de 2015

Quem não tiver telhados de vidro...

Todos os dias deparo-me no facebook com frases pré-feitas sobre o julgamento que as pessoas fazem umas das outras, "dicas", indiretas das vítimas desses julgamentos para os algozes que os fazem. São frases que dão que pensar mas só por uns segundos porque logo a seguir aparece uma foto ou um "estado" de alguém que nos faz pensar "tssss olhem-me para isto, não tem vergonha" ou então "deve pensar que é boa/bom" ou então "txeee foi para a rambóia assim vestida/o?". E por muito que isto nos custe a engolir, é verdade, acontece. Já me aconteceu a mim, já aconteceu a ti, já aconteceu ao teu vizinho, acontece a toda a gente. Não vale a pena fazer-mo-nos de indignados e fingirmos que somos uns fofinhos e salvadores da honra dos outros porque muitas das vezes nem da nossa sabemos cuidar quanto mais da dos outros! A verdade é esta e não há outra: todos fazemos juízos de valor.
E porque é que isto acontece? Simples; porque nascemos já com essa tendência e crescemos com ela. A menos que alguém seja filho de algum aspirante a budista que esteja sempre zen com tudo e todos, mas até esses são seres humanos, portanto, consciente ou inconscientemente também fazem juízos de valor.
Vivermos em sociedade faz com que sejamos assim, estamos sempre a procurar a aprovação dos outros devido à necessidade de lhe pertencermos e por muito que tentemos emancipar-nos disso, não dá.
Isto não implica que não sejamos nós próprios, verdadeiros, nada disso, mas julgar os outros está tão intrínseco que é quase tão normal como respirarmos.
A boa notícia é que a passividade com que fazemos juízos de valor pode ser atenuada se nos esforçarmos para tal. Não é virarmos santos, não é nada disso! O atenuar a forma como julgamos os outros é um trabalho tal e qual como ir à escola, só que neste caso a escola é a vida e os professores são os outros. É na maneira como nós sabemos que olhamos para as atitudes e comportamentos dos outros que vamos buscar as ferramentas necessárias para trabalhar isso, é usar os outros como um espelho nosso porque, se pensarmos bem, todos nós somos o reflexo uns dos outros. O ditado é antigo e é bem certo "nas costas dos outros vemos as nossas" e a verdade é esta, é na convivência com eles que nos conhecemos porque ao fim ao cabo somos "todos diferentes mas todos iguais".
Por exemplo, aquelas amigas que se juntam para ir à missa, que comungam e que até costumam confessarem-se e que assim que saem da igreja uma diz para a outra "já viste a fulana tal? agora anda toda bem vestida, tem um marido em casa e filhos e eu soube pela ti Maria que o neto a costuma ver em bares e em bailaricos das terrinhas. Cá para mim anda a pôr os palitos ao pobre coitado e ele sem saber, é mesmo desenvergonhada!", quem é que já não ouviu este tipo de coisas ou já não foi vítima deste tipo de julgamento? A pergunta é, o marido é delas? E porque é que a mulher não pode sair para se divertir? Acaso a maneira de ver o casamento tem que ser igual à forma como elas o vêem? O facto de sair é sinal de que vai desrespeitar a família? E o andar bem vestida sai dos bolsos delas? Acaso a mulher lhes pede alguma coisa ou que lhes pague as dívidas ao final do mês? São elas que trabalham para meter comida na mesa em casa? Não, obviamente.
E se fosse ao contrário? Se fossem elas as vítimas desses julgamentos? Acaso iriam sentir-se bem?
Eu sei que a tentação é grande, sai-nos muitas vezes sem darmos por ela mas o importante é termos consciência de quando estamos a julgar o outro, parar para pensar e fazermos algo que é-nos tão difícil ainda: colocar-mo-nos no lugar dele, pensarmos de quando somos nós a estar naquela situação ou se algum dia estivéssemos nela se gostaríamos que os outros fizessem o mesmo tipo de julgamento acerca da nossa pessoa.
Quem não tiver telhados de vidro que atire a primeira pedra: isto serve para mim, para ti e para todos. E lembra-te, hoje és tu o juíz amanhã serás o julgado.


ML

sábado, 7 de março de 2015

Sim, odeio-o, e depois?

Nos dias que correm, o ser humano ainda se vê amarrado pelas emoções que o podem denegrir pudicamente perante a sociedade, ainda vive amarrado na vergonha de assumir as emoções negativas que possa sentir;em suma, continua refém de sim mesmo. 
O ódio, esse sentimento supremo da escuridão, esse sentimento rejeitado na boca de muitos mas habitável em muitos corações, é uma das muitas emoções negativas que a sociedade rejeita mas alimenta, dia após dia. A maior parte dos comuns mortais já sentiu ou sente ódio de alguém ou de alguma coisa, quanto mais não seja de si próprio. E eu não sou excepção. 
Até há pouco tempo eu desconhecia esse sentimento tão poderoso e o que ele era capaz de fazer com a mente e com o coração. Mas como muitas coisas na vida, é preciso viver e experienciar para conhecermos não só o poder dessas mesmas coisas mas também nos testarmos enquanto seres humanos dotados de emoções à flor da pele. E digo "à flor da pele" porque até o ser mais controlado tem um saco que enche e explode.
Mas há uma coisa que muita gente não sabe e que eu só descobri depois de ter sentido, pela primeira vez, ódio no coração: é imprescindível aceitarmos que ele está lá. O ódio é como uma doença; tem a sua fase inicial em que surge no coração de mansinho, sem avisar, vai sendo alimentado inconscientemente até saturar todas as células da mente e da alma, passando pela fase da manifestação com as suas crises de negação e, quiçá, se não for tratada, ser capaz de conspurcar o que resta de nós até nos levar à loucura. Daqui até à morte é uma questão de nada.
Em psicologia, aprendi que a aceitação é um passo fundamental e central para qualquer mudança, seja ela de que teor for. Se é fácil? Não, não é. Às vezes vive-se anos e anos enclausurado numa panóplia de sentimentos destrutivos, vive-se constantemente num conflito interno por se querer aceitar uma determinada coisa e as emoções deturparem a mente de tal maneira que nos impede de avançar para o passo da aceitação. É uma luta intensa e constante, sem dúvida. E eu conheço tão bem essa luta interna...
É uma luta que desgasta, que me faz olhar no espelho e não me reconhecer; o que era outrora doce, meigo, dado, tornou-se amargo, frio, revoltado. É uma luta que me faz ter medo do "e se eu não vencer?". É uma luta ingrata entre o querer e não poder. É uma luta diária e, sobretudo, consciente. 
Mas para chegar até à parte da "luta" é preciso entrar no processo primário de aceitação daquilo que se sente. 
Como é que se trata uma doença sem se aceitar que ela vive em simbiose connosco? Impossível. Podem-se ingerir todos os medicamentos, os melhores do mercado, mas dificilmente a doença se cura porque toda a doença tem o seu gérmen na alma. Portanto, cura do corpo sem a cura do espírito é uma brincadeira de médicos, somente. 
É verdade, eu odeio-o. E depois? Vou dizer ao mundo que não? Para quê? Dos outros eu posso fugir mas de mim nunca. Eu poderia fingir perante os outros que tenho um coração puro, que ódio aqui não entra, que sou muito melhor que isso, que isso é para gente reles e pequenina de mente e blá blá blá whiskas saquetas. Mas aquilo que os outros possam pensar de mim pode atenuar ou melhorar aquilo que de mais podre eu sinto? Não. Porque não é o mundo que me carrega, sou eu mesma. E sou eu que apodreço dia após dia, não os outros.
O mundo só serve para nos dar aquilo que precisamos para crescer e aprender a sermos melhores do que éramos. O resto sai-nos do couro. 
A escolha foi minha. A escolha é sempre de cada um. Aceitar o que se sente com verdade e depois partir para o tratamento, ou então fingir que nada se sente e pintar a imagem de pureza interior numa tela que sempre será um mundo estático e que nunca será nosso porque o nosso, felizmente, roda. 
Eu sei que o odeio e sei que isso me magoa mais a mim do que a ele, porque o que ele me fez não pode ser alterado ou desfeito. Perdoa-lo depende de mim. 
O perdão é uma luta que só o corajoso trava com a sua sombra, e demore o tempo que demorar o vencedor será sempre ele. Mas mais do que isso, não quero odiar para um dia ser odiada. 
O nosso mundo roda, não é estático. Tudo o que damos a vida devolve-nos em dobro e desta máxima só foge quem é tolo.


ML
 

sábado, 10 de janeiro de 2015

Urgência!

Sinto uma urgência de colo, de ser engolida pela mãe terra e ficar no seu ventre, regredindo por todos os estágios que percorri desde a concepção até hoje, sinto necessidade de voltar a sentir-me raiz mas desta vez não de uma mulher, e sim de mim mesma.
Sinto uma urgência de ficar alojada numa parede qualquer da vida e ser alimentada durante 9 momentos, e depois, ser parida pela mãe terra e dar um novo grito à luz da vida.
Sinto uma urgência de ser embalada com ausência de canções, de ficar simplesmente aninhada nuns braços quaisquer e sentir-me pequenina sem ser cobrada por isso.
Sinto urgência de ficar calada no meio de gritos ensurdecedores que me corroem a alma, de fininho e sem ninguém ver.
Sinto urgência de morrer e renascer, sem passar pelo pó. Porque ainda tenho tanto para desbravar.
Sinto que tenho o mundo para explorar, e visto daqui debaixo tudo me parece tão grande e imenso, tão intenso e assustador.
Sinto urgência de esquecer que eu existo e que até mesmo tu algum dia exististe na minha vida. Sim, falemos em passado porque já estás do lado de fora da porta com ela fechada e trancada a 8 chaves (contando com a suplente).
Eu tenho urgência em culpar-te por toda a dor que sinto e pela pessoa amarga que vejo, de dia para dia, agigantar-se em mim. Mas depois lembro-me que a estupidez foi minha em ignorar os sinais do óbvio e lembro-me também da maior sequela que carrego no ventre.
Poderia fazer o que sempre fiz com outras dores passadas: fingir que não dói, ignorar a ferida aberta e seguir caminho mesmo que isso implicasse repetir os mesmos erros e voltar a passar por tudo outra vez. Desta vez, a proporção é maior. A dor é gigante demais para caber debaixo de um tapete. Tudo está tão negro, tão dorido, tão enraivecido em mim que faltam-me as palavras para expressar algo que eu sempre soube fazer na perfeição: a dor.
Neste momento, e pela primeira vez na vida, estou a obrigar-me a senti-la como todas as dores devem ser sentidas. Só assim, finalmente, começarei a aprender com os meus erros.
Culpar-te é tão pouco comparado com aquilo que a vida te vai oferecer de volta, por isso de nada me adianta, em nada me ameniza.
Como a minha melhor amiga diz, e tão sabiamente, "sentir é o que te esta a deitar abaixo, mas é também o que te está a fazer viva a cada dia". E por muito negro que o horizonte se aviste, esta é uma verdade irrefutável que deve ser lembrada todos os dias da minha vida.


ML