sábado, 10 de janeiro de 2015

Urgência!

Sinto uma urgência de colo, de ser engolida pela mãe terra e ficar no seu ventre, regredindo por todos os estágios que percorri desde a concepção até hoje, sinto necessidade de voltar a sentir-me raiz mas desta vez não de uma mulher, e sim de mim mesma.
Sinto uma urgência de ficar alojada numa parede qualquer da vida e ser alimentada durante 9 momentos, e depois, ser parida pela mãe terra e dar um novo grito à luz da vida.
Sinto uma urgência de ser embalada com ausência de canções, de ficar simplesmente aninhada nuns braços quaisquer e sentir-me pequenina sem ser cobrada por isso.
Sinto urgência de ficar calada no meio de gritos ensurdecedores que me corroem a alma, de fininho e sem ninguém ver.
Sinto urgência de morrer e renascer, sem passar pelo pó. Porque ainda tenho tanto para desbravar.
Sinto que tenho o mundo para explorar, e visto daqui debaixo tudo me parece tão grande e imenso, tão intenso e assustador.
Sinto urgência de esquecer que eu existo e que até mesmo tu algum dia exististe na minha vida. Sim, falemos em passado porque já estás do lado de fora da porta com ela fechada e trancada a 8 chaves (contando com a suplente).
Eu tenho urgência em culpar-te por toda a dor que sinto e pela pessoa amarga que vejo, de dia para dia, agigantar-se em mim. Mas depois lembro-me que a estupidez foi minha em ignorar os sinais do óbvio e lembro-me também da maior sequela que carrego no ventre.
Poderia fazer o que sempre fiz com outras dores passadas: fingir que não dói, ignorar a ferida aberta e seguir caminho mesmo que isso implicasse repetir os mesmos erros e voltar a passar por tudo outra vez. Desta vez, a proporção é maior. A dor é gigante demais para caber debaixo de um tapete. Tudo está tão negro, tão dorido, tão enraivecido em mim que faltam-me as palavras para expressar algo que eu sempre soube fazer na perfeição: a dor.
Neste momento, e pela primeira vez na vida, estou a obrigar-me a senti-la como todas as dores devem ser sentidas. Só assim, finalmente, começarei a aprender com os meus erros.
Culpar-te é tão pouco comparado com aquilo que a vida te vai oferecer de volta, por isso de nada me adianta, em nada me ameniza.
Como a minha melhor amiga diz, e tão sabiamente, "sentir é o que te esta a deitar abaixo, mas é também o que te está a fazer viva a cada dia". E por muito negro que o horizonte se aviste, esta é uma verdade irrefutável que deve ser lembrada todos os dias da minha vida.


ML

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