sábado, 7 de junho de 2014

Tu...

...assombras-me! Já se passaram quase 3 anos desde aquele dia (18 de setembro, lembras-te?) em que te conheci; e pareces-me tão presente... Ainda consigo sentir cada traço teu; o teu cheiro; a forma do teu sorriso a abrir-se e as covinhas que se formavam; o teu toque; a chuva que caía; a praia que se estendia à nossa frente vazia de tudo: só nós e o mar; o estilo de música dos anos 80 que tanto gostavas (ainda adoras Otis Redding?); o nosso beijo (lembras-te de quantos foram? Eu perdi a conta.); a forma como o meu corpo reagia ao teu e o teu ao meu; as horas que passaram num ápice enquanto permanecíamos abraçados e cobertos com uma manta de improviso que andava sempre contigo no jipe (ainda tem o nosso cheiro?) a ouvir a tua música (aquela por que me apaixonei, depois de me teres deixado)...   Ainda te sinto. E isto é tão frustrante! Porque a força de te querer ainda é maior do que a força de te deixar ir.
Ao longo do tempo, desde que te afastaste, eu pensei estar a fazer uma cura interior; como se estivesse encerrada para limpezas profundas. Mas ontem, voltaste. Não fisicamente, mas num formato pior: memórias. Fazem-me sorrir e chorar ao mesmo tempo, sabes?
Eu nunca soube nem saberei porque é que não me quiseste como eu te quis, nunca vou saber porque decidiste partir, nunca vou saber a tua verdade. Deixaste-me aqui com os sonhos todos na palma da mão, com resquícios da imagem que pintaste na minha tela, as fotografias e as músicas guardei-as todas junto ao peito; porque é lá que te mantenho seguro e longe da vista. Esqueceste-te de me ensinar de como se vive sem ti! 
Aquela última mensagem que me mandaste "A sério, és tão fofa. Eu sei que nunca irei encontrar ninguém como tu. Obrigada". 
"Obrigada", era tudo o que tinhas para mim... E eu ali entendi que não podias dar mais nada, não que não o tivesses; mas tinhas medo de dar. 
Durante muito tempo culpei-me: talvez a culpa fosse minha por não ser tão bonita o quanto desejarias que fosse; talvez porque tenho um filho e achavas que seriam responsabilidades a mais para aquilo que conseguias suportar; talvez não tenha tido a capacidade de te fazer apaixonar por mim; talvez porque os teus planos comigo não passavam do que tivemos: um momento. Mas hoje não me culpo mais; deixei de o fazer. E sabes porquê? Porque eu percebi que te amei mais do que a mim própria. E no amor não é suposto deixar-mo-nos de amar em prol do outro; não é suposto apanhar as migalhas que o outro vai dando para nos mantermos vivos, quando na verdade morremos um pouco mais a cada dia que passa por causa da ausência; não é suposto deixarmos de ser para o outro habitar em nós. 
Migalhas; foi tudo o que me deste para me manter, e disso nenhum dos dois tem dúvida. Valha-nos a humildade para percebermos e aceitarmos isso!

Queres saber? Já nada importa. Não importa que não me quisesses, não importa que já não estejas ou que eu não tenha sido o suficiente para te fazer ficar. Eu preparei-me, por entre sombras, para te deixar ir. E está na altura de abrir asas e ir, porque a luz chama-me; e quanto a ti... Serás tudo aquilo que quiseres sem mim e passarás a ser para mim algo que não posso tocar: memórias. Mas ou vou agora ou ficarei amarrada a ti para sempre, e eu mereço melhor. Talvez, um dia, possas virar para mim aquilo que já sou para ti há muito tempo: pó.



ML

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