Mas há sempre um momento (seja em que idade for), em que paramos ou algo nos pára forçosamente, e obriga-nos a enfrentar a nossa verdade. E isso aconteceu comigo, recentemente. Não sabia que partir um pedaço do corpo (no meu caso, um pé) dava para perceber o que vai mal e o que tem de ser mudado, indiscutivelmente. Partir o pé, foi como renascer das cinzas: fui forçada a ficar parada, o que afeta qualquer pessoa que ande sempre atarefada; revoltei-me, chorei e culpei o mundo; depois dizia a mim mesma que foi pouca sorte e que foi o resultado de pragas rogadas (estava mesmo cega!); passei pela fase da passividade de "ok, a minha vida é uma merda, naturalmente e sem esforço"; até que comecei a reaprender a andar (literalmente) e com isso, percebi o caminho que tinha tomado até ali e que não era de todo aquele onde eu queria estar. Quem gosta de viver no limbo?
Foi a partir desse momento, que me desalinhei toda; foi nesse momento que voltei à casa que 2 anos antes tinha deixado, por ter perdido a minha própria fé, e onde aprendi mais algumas coisas com uma das mulheres da minha vida (que tem umas mão perigosas, de meter medo, cuidado), que é assim um ser super iluminado que deixa qualquer pessoa que entre no consultório K.O. (literalmente). É bom, mas tão bom, ver-me renascer das mãos dela; como uma mãe dá à luz um filho; como uma mãe que prepara a sua cria para a vida lá fora, ensinando-a como se voa! Cada palavra, cada conselho, cada gargalhada, é um ensinamento para mim; o exemplo de como viver bem.
Só agora entendi que a vida sabe bem. E por ter percebido isso, por ter-me permitido sentir ("finalmente" diz ela; daqui consigo ouvir-te) e por deixar que flua, sinto que os meus pés, neste exato momento, pisam a terra do caminho certo; a terra fértil, outrora árida.
Desalinhei-me, sim. Mas é preciso desalinhar para voltar a alinhar; é preciso destruir para voltar a construir algo novo; é preciso morrer por dentro para voltar a renascer. E a vida flui, e com ela vem as coisas boas de uma forma espetacularmente natural: surgem pessoas que são capazes de me olhar como uma filha "eu quando soube que tinhas partido o pé pensei que fosses desistir do semestre e até falei com a minha mãe para saber o que te haveria de dizer para que não desistisses e para te trazer cá para cima (...) um dos meus objetivos foi ajudar-te para que não desistisses do curso que tanto amas (...) ver-te em pé a fazer frente aos obstáculos, a tentar, deixa-me espantada; acredita que se fosse outra pessoa qualquer já teria baixado os braços e desistido"; ou como uma irmã "está atenta ao teu correio, enviei-te um mimo para ajudar no teu incentivo ao estudo (...) somos família do coração ou não somos?"; ou ainda reencontrar pessoas que foram imensamente importantes na nossa vida mas que, por circunstâncias naturais, as deixámos de ver (obrigado professor por me ter ensinado algumas coisas de matemática e outras coisas da vida; como por exemplo, saber ser e estar, através do seu exemplo).
A vida é linda, e só agora pude enxergar essa beleza. De dia para dia renasço, e o melhor de tudo é que nunca estou sozinha, como sempre achei toda a vida. Bastou olhar à volta, começar a vibrar noutro comprimento de onda e a magia aconteceu; acontece todos os dias.
Se é fácil viver? Não; mas se fosse, qual seria a piada? Pois é, nenhuma.
ML
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