quinta-feira, 12 de junho de 2014

Até hoje nunca me tinha permitido sentir; sim, isso é triste. Vivia sempre a vida a medo; dava-me com as pessoas e cobrava delas o mesmo que eu lhes dava; levava, até as pequenas coisas, na ponta da espada. As vezes que caí? Incontáveis. 
Mas há sempre um momento (seja em que idade for), em que paramos ou algo nos pára forçosamente, e obriga-nos a enfrentar a nossa verdade. E isso aconteceu comigo, recentemente. Não sabia que partir um pedaço do corpo (no meu caso, um pé) dava para perceber o que vai mal e o que tem de ser mudado, indiscutivelmente. Partir o pé, foi como renascer das cinzas: fui forçada a ficar parada, o que afeta qualquer pessoa que ande sempre atarefada; revoltei-me, chorei e culpei o mundo; depois dizia a mim mesma que foi pouca sorte e que foi o resultado de pragas rogadas (estava mesmo cega!); passei pela fase da passividade de "ok, a minha vida é uma merda, naturalmente e sem esforço"; até que comecei a reaprender a andar (literalmente) e com isso, percebi o caminho que tinha tomado até ali e que não era de todo aquele onde eu queria estar. Quem gosta de viver no limbo?
Foi a partir desse momento, que me desalinhei toda; foi nesse momento que voltei à casa que 2 anos antes tinha deixado, por ter perdido a minha própria fé, e onde aprendi mais algumas coisas com uma das mulheres da minha vida (que tem umas mão perigosas, de meter medo, cuidado), que é assim um ser super iluminado que deixa qualquer pessoa que entre no consultório K.O. (literalmente). É bom, mas tão bom, ver-me renascer das mãos dela; como uma mãe dá à luz um filho; como uma mãe que prepara a sua cria para a vida lá fora, ensinando-a como se voa! Cada palavra, cada conselho, cada gargalhada, é um ensinamento para mim; o exemplo de como viver bem. 
Só agora entendi que a vida sabe bem. E por ter percebido isso, por ter-me permitido sentir ("finalmente" diz ela; daqui consigo ouvir-te) e por deixar que flua, sinto que os meus pés, neste exato momento, pisam a terra do caminho certo; a terra fértil, outrora árida.
Desalinhei-me, sim. Mas é preciso desalinhar para voltar a alinhar; é preciso destruir para voltar a construir algo novo; é preciso morrer por dentro para voltar a renascer. E a vida flui, e com ela vem as coisas boas de uma forma espetacularmente natural: surgem pessoas que são capazes de me olhar como uma filha "eu quando soube que tinhas partido o pé pensei que fosses desistir do semestre e até falei com a minha mãe para saber o que te haveria de dizer para que não desistisses e para te trazer cá para cima (...) um dos meus objetivos foi ajudar-te para que não desistisses do curso que tanto amas (...) ver-te em pé a fazer frente aos obstáculos, a tentar, deixa-me espantada; acredita que se fosse outra pessoa qualquer já teria baixado os braços e desistido"; ou como uma irmã "está atenta ao teu correio, enviei-te um mimo para ajudar no teu incentivo ao estudo (...) somos família do coração ou não somos?"; ou ainda reencontrar pessoas que foram imensamente importantes na nossa vida mas que, por circunstâncias naturais, as deixámos de ver (obrigado professor por me ter ensinado algumas coisas de matemática e outras coisas da vida; como por exemplo, saber ser e estar, através do seu exemplo). 
A vida é linda, e só agora pude enxergar essa beleza. De dia para dia renasço, e o melhor de tudo é que nunca estou sozinha, como sempre achei toda a vida. Bastou olhar à volta, começar a vibrar noutro comprimento de onda e a magia aconteceu; acontece todos os dias. 
Se é fácil viver? Não; mas se fosse, qual seria a piada? Pois é, nenhuma. 





ML

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