sexta-feira, 27 de junho de 2014

Até onde é capaz de ir a podridão da mente humana?

Como sabem, e para quem tem interesse naquilo que escrevo, este blog é recente e aqui me propus a falar de mim: do que passou, do que fui, no que me tornei, o bom e o mau que me vai acontecendo; um blog de partilha de mim para vós. E como opiniões também são pedaços de partilha daquilo que penso e sinto, hoje venho-vos falar sobre um "texto" (se é que aquele amontoado de frases pode ser caracterizado como tal, mas deixo isso para os entendidos em escrita) acabadinho de ler num blog vizinho (que FELIZMENTE não sigo), e que dei de caras por acaso, ou talvez não.
Não conheço o seu autor, e dispenso obrigada, mas pelo que escreveu sobre um tema que me é muito familiar não só pela minha experiência nele mas também como futura psicóloga, diria que é uma pessoa que das três uma: ou tem um distúrbio de personalidade tão grande que não tem sequer a percepção disso, ou foi destituído de uma coisa que se chama "bom senso", ou então não bate bem do miolo. Se não vejamos; começando pela parte inicial do texto...

"No meu tempo não havia bullying, havia porrada, normalmente no intervalo."

Até aqui tudo bem, o senhor explicou em palavras grosseiras o que significa o estrangeirismo "bullying". Mas continuando...

"No meu tempo os campos eram de gravilha e vidros, os parques infantis de areia com cocó de cão e seringas e os escorregas e baloiços tinham ferrugem e pregos soltos prontos a espalhar o tétano. Hoje em dia é tudo almofadado, alcochoado e desinfectado."

BEM-VINDO À CIVILIZAÇÃO AMIGO!!! Andava perdido em que anos? 80? Desculpe lá se a civilização melhorou, se as condições de higiene e dos materiais proporcionaram mais bem-estar à gente que quer ser civilizada, especialmente às nossas crianças... Imagino que regressar dos anos 80 direitinho para o século 21 tenha sido uma tarefa árdua e que ainda hoje se revolte com as criancinhas (malvadonas!) que têm a sorte de poderem brincar em locais um pouco mais limpos e seguros (deviam todas apanhar tétano só por causa das tosses!) do que aqueles por onde sua excelência andou. Inveja? Parece-me que há por aí muita. Mas continuando...

"Andamos a mexer com a seleção natural feitos parvos e vamos acabar por estragar a evolução da nossa espécie."

De qual a se refere? À sua ou à minha? É que, vamos lá entender uma coisinha, o bullying não é uma "cena" natural. Para os animais sim; é mais ou menos praticando "bullying" que se alimentam e ditam as suas regras, e consequentemente sobrevivem. Apesar de sermos animais temos uma coisa que nos distingue do todos os outros: racionalidade. E tenho cá para mim que o senhor não faz uso da sua, é uma pena.
Mas pegando na sua expressão de "mexer com a seleção natural", repare só na definição de seleção natural: "o conceito básico de seleção natural é que características favoráveis que são hereditárias tornam-se mais comuns em gerações sucessivas de uma população de organismos que se reproduzem, e que características desfavoráveis que são hereditárias tornam-se menos comuns." No seu entendimento, nós, pais, somos os xoninhas porque temos as tais características desfavoráveis que são hereditárias e por isso andamos a lixar isto tudo porque andamos a cuidar melhor das nossas crianças, a protegê-las do que as possam colocar em perigo e prepará-las melhor para a vida que as espera, a torná-las mais humanas; ao invés de as deixarmos seguir as suas tendências naturais que é rebolar em areia com cocó de cão e brincar em baloiços quase a caírem e com parafusos soltos cheios de tétano (todas as características favoráveis que tornariam as próximas gerações rijas como o aço). Deixe-me dizer-lhe que além de necessitar, urgentemente de aulas de biologia sobre seleção natural também necessita de aulas intensivas de "como ser menos burro". Mas, prosseguindo.

"Se um puto ranhoso decide que se deve mandar de cima do escorrega, num mortal encarpado à retaguarda, quando nem o pino sabe fazer, e se esbardalha com os dentes no chão ou enfia um prego ferrugento no escroto, quem somos nós para impedir? É deixá-lo ir."

Se fosse pai; mais, se fosse um ser humano consciente, acredite, não diria isto. Faz parte da nossa responsabilidade enquanto seres sociais impedir que desgraças aconteçam quando estamos prestes a presencia-las. E como mãe e ser humano lhe digo que é mesmo assim! Se eu estiver num parque com o meu filho e vir que uma criança está prestes a magoar-se eu vou lá e ajudo-a e alerto os pais; e isto não é ser xoninhas, é ser consciente. Porque se fosse com o meu filho, quero acreditar que fariam o mesmo (apesar de saber que existem mais bestas ao cubo como você que "deixariam ir"). Não me diga que estava lá no dia que a Kitty Genovese foi assassinada?!
Continuando com a dissecação do seu post miserável...

"Hoje em dia uma mãe bate num puto e tem os Serviços Sociais à porta e uma professora fala alto com um miúdo e tem os pais a quererem explicações à base do punho."

Olhe que tanta generalização faz-lhe mal, pode provocar-lhe azia e lá se vai a sua oportunidade de transmitir "rijeza" aos seus pequenos póneis vindouros.
Como futura psicóloga posso-lhe garantir que isto não é assim linear: "Comé? Bateste no puto? Porquê? Levas uma berlaitada nas trombas que até arrotas a presunto!" (Isto na Buraca certo?).
Acontece sim, especialmente com pais que vivem à roda dos filhos, que não sabem estabelecer limites e protegem as suas crias contra tudo e todos, até da boa educação. Acredite, tenho um exemplo disso mesmo, mais perto do que imagina! Portanto, sei bem do que falo. Há casos e casos. Mas também lhe posso garantir que não é dar "porrada" nos putos que eles aprendem alguma coisa. Sabe o que eles aprendem? A respeitar regras e pessoas por medo, só isso. E depois quando chegam à idade da adolescência e até mesmo adulta é o que se vê: marginalismo e desrespeito pelos outros até mais não.
Quer um exemplo? Eu dou-lhe. O meu pai levou muita pancada do meu avô e ele acabou por fazer o mesmo ao meu irmão mais velho. Sabe qual foi o resultado disso? Nenhum. Sim, leu bem: NENHUM. E sabe porquê? Porque hoje, já adulto, é uma pessoa desprezível, sem respeito por si próprio nem pelos outros; foi capaz das maiores atrocidades que possa imaginar. Portanto, como vê, pancada não resultou a longo prazo. E vou mais longe: "Eu levei muita porradinha, a minha mãe chegou-me a atirar um rissol congelado, em género de estrela ninja, que se me tinha acertado era coisa para abrir lenho no sobrolho. Só me fez bem, não que merecesse, mas ensinou-me movimentos semelhantes ao do Neo no Matrix, que na minha zona dão jeito.", posso retirar desta frase que levar porrada da sua mãezinha não lhe adiantou nada, só lhe ensinou mesmo os movimentos do rapazito do Matrix. Porque, perante tal modo de escrita e conteúdo só posso extrair que educação não tem nenhuma e que caráter e bom senso lhe faltam em abundância! Mas isto já são juízos a mais para uma noite só.

Deixe-me que lhe faça uma pergunta: o que é que importa mais para si, ter crianças com a barriga cheia de pancada mas que no futuro vão ser uns marginais, ou crianças com a barriga cheia de princípios e valores transmitidos na base do amor e do respeito?! Pois. Nem vale a pena esperar que me responda porque temo que amor e respeito foi o que mais lhe faltou na infância.
Que fique bem claro, para si e para toda a gente, que a função dos pais não é "esconder" as suas crias debaixo das saias e protegê-las dos lobos maus que andam por aí à espreita. A função dos pais é dar o exemplo, porque exemplo gera exemplo, porque respeito gera respeito, valores gera valores e por aí em diante. Existem sim, pais que tratam as crianças como pedaços de cristal que não se podem quebrar, e depois têm a infelicidade de fazer figuras tristes como aquelas que fala no seu "texto". Mas não são todos assim, eu pelo menos não sou e se valer a pena pela diferença, então já ganhei o mérito! Portanto, cuidado com o que diz; generalizar não me parece que seja um exemplo credível para alguém que nem pai é, quanto mais entendido em questões de psicologia.
A culpa do bullying, caro senhor, não é das crianças (malvadonas!), é dos pais que de uma forma inconsciente ou consciente, esquecem-se que tiveram filhos e que eles não se criam sozinhos, não aprendem a ser gente sozinhos. Pois é, isto é outra coisa que vossa excelência não sabe mas que deveria ter aprendido (se tivesse estudado alguma coisa decente) é que nós humanos nascemos munidos de instintos de sobrevivência e que somos o único animal que nasce mais frágil  e que necessita de cuidados e acompanhamento durante um longo período da sua vida. Portanto, não nascemos ensinados.

E no meio de tanta estupidez junta acabou por encontrar a charada para a causa maior do bullying: a falta de amor e de compreensão por parte dos pais: "Não foi preciso grande coisa para acabar com isto, foi só convidá-lo para jogar à bola com o meu grupo e enturmá-lo. Acabaram-se os abusos porque ele deixou de estar sozinho e de ser um alvo fácil. Basta coisas destas para se acabar com o bullying.". Pois é, aqui reside a solução: o bullying não é mais do que uma mão cheia de emoções negativas concentradas num pequeno ser que nem espaço tem para carrega-las.
Encare isto como uma garrafa de coca-cola (gosta? ou isso é só coisa de crianças mimadas?): você abana a garrafa durante um certo tempo e o gás que contém vai fazendo uma tal pressão que se tem o azar de a deixar cair e ela abrir-se você fica todo molhado, embebido em açúcar que lhe vai dar uma sensação nada agradável. Assim são as crianças carentes de atenção e afeto por parte dos pais. E não me venha dizer que as criancinhas, filhas de papás riquinhos também são bullies e que isto deita por terra a minha (que em nada é minha) teoria, porque até essas têm carência de alguma coisa.
E aquele timorense que convidou para jogar à bola era uma garrafa que estava a ser abanada à muito tempo. Ainda bem que não a abriu e contribuiu para que o gás se acalmasse, nem que fosse por aqueles pequenos momentos de jogar à bola que o ajudaram a integrar-se! Valha-nos ao menos uma coisa acertada que tenha dito.

"As crianças são más, sempre foram, talvez sejam piores agora, não sei."

A sério que li isto?? Mas onde é que você (e outros que pensam assim) está com a cabeça para dizer uma coisa destas?? Virgem Maria, isto é o auge de toda a ignorância! Como é que uma criança é má?
É UMA CRIANÇA!!!! E ser-se criança é assim: tem-se o coração na boca, tem-se demasiada verdade incontrolada dentro do peito. Os pais é que são ridículos porque reprimem isso nas suas crianças, ao invés de lhes ensinarem a dizer e ser verdade sem com isso magoarem ou desrespeitarem o outro! É essa a nossa obrigação enquanto pais! Não é torná-las xoninhas; é torná-las gente.

"É verdade que com o bullying também vamos ter alguns que ficam traumatizados e com problemas para a vida toda, mas é um sacrifício necessário."

Quer um conselho? Faça um favor a si mesmo e à humanidade: não tenha filhos. Correrá um forte risco de um deles ser um dos "alguns que ficam traumatizados e com problemas para a vida toda" (e com um pai assim, a probabilidade é alta). E, acredite, seria um sacrifício desnecessário para si assistir a isso.

Um conselho aos pais que, como eu, querem o melhor para os seus filhos:  prestem atenção, cuidem das vossas crias como pedaços (que são) vossos. Eles serão tudo aquilo que vocês lhe mostrarem que não tem mal ser, eles serão o vosso reflexo no futuro, eles serão bullies se assim vós permitirdes porque os bullies somos nós pais que geramos debaixo do nosso teto. Como, perguntam vós? Simples. Carência de atenção e afeto são os principais ingredientes, o resto serão só circunstâncias até que a garrafa de coca-cola expluda.
Que sejam felizes e façam as vossas crianças felizes, conscientes de que a vida é uma roda em constante movimento; o que dermos ela traz de volta.

ML







1 comentário:

  1. Lindo o seu Testemunho. Eu como Mãe não saberia como viver sem a Minha Filha. Nem tenho palavras... Só realmente quem passa por estes terríveis Momentos pode descrever...

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