segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Às mulheres da minha vida

Hoje o diálogo é sobre, e para, as mulheres da minha vida. Não tenho muitas, é verdade, mas também é importante falar delas, e para elas.
Hoje fechei os olhos, abri o coração e meti-as todas alinhadas à minha frente.
Hoje, finalmente, percebi que entre mim e elas existem, entre muitas coisas, diferenças abismais na forma como cada uma se vê como mulher, como pessoa, na visão que cada uma tem acerca da sua vida e a projeção que cada uma faz de si no mundo.
Hoje, percebi que entre mim e elas, existe um degrau enorme. A fila não é longa, mas é o suficiente para ver que entre elas existe um padrão demasiado pesado, um padrão de onde tento escapar mais um bocadinho a cada dia que passa; um padrão em que todas elas se esqueceram de si no tempo.
Ao olhar para cada rosto, eu consigo ver os rasgões que as tempestades da vida lhes deixou, consigo cheirar a dor que lhes vai na alma, os olhos...ah, os olhos... há muito que deixaram de ser espelho de coisa alguma, de tão apagados que estão.
Desde a minha mãe, passando pelas minhas tias até chegar às minhas primas, com todas elas eu aprendo os maus exemplos que tento combater, todos os dias da minha vida. Quem disse que os maus exemplos não têm um lado bom é porque nunca amou, porque só com muito amor se pega no que é mau e se transforma em algo bom para a vida inteira. E estas mulheres mostram-me muito.
Muitas delas deixaram-se consumir pelo tempo, esqueceram-se de quem queriam ser quando fossem grandes, deixaram a criança delas fugir.
Algumas das mulheres da minha vida amaram demais, até não lhes sobrar mais nada, inclusive a própria vida. Outras desistiram de construir a felicidade, outras até lhes roubaram os sonhos.
Durante muito tempo eu aceitei o karma que me esperava, também eu assumi que a felicidade era uma utopia, que os sonhos são para ser guardados nas gavetas e que o amor deve ser deixado ir com o vento. Mas acho que a minha teimosia rebelou-se, porque há medida que o tempo vai passando eu sinto que o tempo não se instala; ele faz-me mover para a frente; faz-me explorar trilhas que sempre descartei por serem demasiado incertas; mostra-me que os sonhos e a felicidade andam de mãos dadas e que uma e outra coisa dependem, exclusivamente, de mim, faz-me acreditar que amar não significa negligenciar-me, que mais importante do que os outros, sou eu própria.
Hoje, quero dizer às mulheres da minha vida que com elas aprendo a construir-me melhor, mas também quero lhes dizer que enquanto há vida há esperança, e que o facto de se terem perdido algures no tempo, não quer dizer que não haja um caminho de volta a elas mesmas.
Não deixes que te digam o que fazer ou ser, não deixes que o amor que tens pelo outro se torne uma dependência capaz de te indefinir.
Não permitas que os outros esperem alguma coisa de ti, porque o caminho só a ti pertence.
Não aceites as migalhas, porque mereces o prato inteiro.
Não cales o que sentes ou o que pensas por medo, porque um pássaro sem voz é como uma primavera sem vida.
Não desistas de ti, mesmo que tenhas que deixar ir meio mundo e outro tanto, porque, na vida, a única garantia que tens é a ti mesma.
Lembra-te, sobretudo, que a vida é para viver.
Hoje, é a vocês, mulheres da minha vida, que agradeço as melhores lições da mulher que não quero ser.
Amanhã, espero que sejam vocês a aprenderem a ser a mulher que nunca deviam ter deixado de ser.


<3

ML















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