quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Um Natal incompleto

Nunca te disse mas, o meu natal sem ti não é uma festa completa. O meu natal é sempre com metade do coração aqui e a outra metade aí. Há quem diga "o tempo passa, a saudade fica e a falta torna-se subtil". Eu digo que, quanto mais o tempo passa, mais a saudade e as memórias se acentuam sem subtileza.
Tu sabes que não gosto de expor a minha saudade, não gosto de falar das poucas memórias que a minha meninice conseguiu guardar. Prefiro ouvi-las da boca de quem te viveu, até ao teu último suspiro.
Hoje voltei a ouvir as tuas memórias, a tua saudade cantada pela boca da minha mãe, outra mulher da tua vida que te amava mais do que ao próprio pai, essas memórias menos boas, aquelas de dias antes de partires, inclusive o dia em que me deixaste aqui à espera.
Cresci a ouvir "ele já vem, foi só ao café". Até hoje espero que voltes desse café para poder voltar para esse colo que era tão meu, tão nosso.
Eu sei que é sempre quando Deus quer, mas pergunto-lhe muitas vezes se não podia ter-te querido mais tarde, se não podia ter esperado até eu me fartar de ser feliz contigo aqui. A única resposta que ele me dá é mais saudade.
Aprendi que o Natal é para ser vivido com quem amamos, para aproveitarmos enquanto os corações ainda se podem tocar. Só não me ensinaram como é que se vive o natal com o coração pela metade. Ainda não sei ser feliz sem ti; vou sendo.
Na ceia de natal o teu lugar está lá, o melhor lugar à lareira também ainda está reservado para ti, a melhor taça de vinho ainda espera o teu brinde, e o teu presente... o teu melhor presente era estares aqui comigo.
Poderíamos passar a noite inteira a pôr os anos em dia, a desabafar sobre as dores que foram ficando e poderias ensinar-me como se ama além das mágoas. Poderíamos jogar os jogos que nos faltaram jogar, rir das coisas que nunca pudemos rir. Poderíamos ver as fotografias sobre as memórias que o tempo foi guardando, poderias conhecer os netos que nunca viste. Poderíamos dar os abraços que nunca pudemos dar. Poderia adormecer no embalo do teu colo que me faltou a vida inteira.
Poderia tanta coisa, mas só posso recordar-te, como todos os anos da minha vida. Poderia viver esta época do ano com tristeza no coração, cravado pela saudade. Mas tu mereces mais; mereces a minha felicidade.
O meu natal será sempre um natal incompleto sem ti aqui, mas também será sempre repleto de alegria porque as memórias, apesar de nos magoarem, também são bem capazes de manter a esperança acesa de que um dia voltaremos a encontrar-nos, e aí poderemos celebrar o amor numa eternidade sem fim.
Porque será sempre o amor que nos manterá unidos.
Feliz Natal, avô.

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