Depois de te enviar uma mensagem que mais parecia um testamento vital, adormeci, finalmente, na esperança de que acreditasses em cada palavra do que disse, que isso te tocasse o espírito e fizesses de nós um amor melhor. Mas também sei que no meu ouvido alguma coisa me dizia "naaaa ele é demasiado pequenino para um ato tão grandioso como este", e ainda assim eu esperei pelo feedback, porque ao contrário de ti eu dou SEMPRE o benefício da dúvida ao invés de esperar sempre as piores catástrofes.
Eis que de manhã sou presenteada, mais uma vez, com palavras e ideias contraditórias: ora dizias que não me odiavas e que compreendias o porquê de ter feito a burrice que fiz e que ainda gostas de mim e não me consegues deixar ir e por isso mesmo ainda me procuras, ora dizias que eu tinha andado com fulano e sicrano e que não conseguias entender as razões que me levaram a fazer o que fiz. Sempre foste assim! Confuso nas ideias e contraditório (muito).
Tu esqueces-te é de uma coisa; eu também já estive desse lado e senti na pele o que sentiste. Mas também sei aquilo que o meu coração me disse sempre para fazer: quando existe mostras de arrependimento sincero e quando a pessoa pede, humildemente, a oportunidade de mostrar algo melhor do que aquilo que mostrou até então, devo dar o benefício da dúvida. E nesta conduta, umas vezes perdi outras ganhei. A vida é assim mesmo; um risco de perdas e ganhos, e por isso mesmo não me arrependo das oportunidades que dei por a minha vida fora.
Mas nem toda a gente tem a mesma grandeza no coração, como eu! E apesar de isso me deixar fula, passada dos carretos, sei que não posso mudar o mundo sozinha. Pelo menos posso mudar o meu, o que já é muito.
O nosso amor é bonito, a nossa história é uma história irrepetível, bem o sei. E deixa-lo sumir-se assim, sem sequer tentarmos, sem sequer darmos a última gota que ambos tínhamos para dar e torna-la num oceano imenso, é crime. Mas acho que tu não sabes disso. Podes até fazer uma pequena ideia, mas ela é limitada, tal e qual o teu amor por mim.
E se eu tinha dúvidas de que o teu amor é, sempre foi e sempre será limitado, hoje não me restam mais dúvidas! Porque quando és chamado a ter uma atitude nobre não o és capaz de o fazer: perdoar. Acho que nem tão pouco sabes o que isso é!
Para ti sempre foi tudo 8 ou 80, não existe meio, não existe equilíbrio. E lamento informar-te que ser-se assim nunca nos fará feliz. Fala-te a voz da experiência!
Já diz o ditado: errar é humano, perdoar é divino. E tu nunca saberás o que isso é, nem nunca sentirás a sensação maravilhosa de contribuir para o crescimento espiritual de um ser humano que assume com humildade os seus próprios erros e tem a coragem de pedir, não só perdão mas também uma oportunidade de se redimir e provar, tanto para si mesmo como para o outro, que é merecedor dela. O passo para a remissão do pecado é assumi-lo!
A facilidade com que julgas os outros e te colocas no papel de cordeiro e os outros é que são os monstros, é abominável. Isso é coisa de miúdos, não de adultos. E com este tempo separados, longe um do outro, pensei que tivesses crescido o suficiente para teres repensado em muitos dos teus atos que também eles contribuíram para o fim desta relação. Sim, porque tu não és santo nenhum, apesar de gritares aos 4 ventos que és um coitado e que o traído foste tu. Também eu sofri imenso nas tuas mãos, talvez bem mais do que tu nas minhas. Mas eu não gosto, nem vou fazer comparações de quem é que sofreu mais, porque eu sou adulta não uma miúda e além do mais eu valorizo a dor dos outros. Pena é que os outros não valorizem a minha, mas prosseguindo.
Não me arrependo de uma única palavra do que escrevi naquela mensagem e se tivesse que a reescrever fazia-o sem pestanejar. Porque atos de humildade são raros no mundo, e se há coisa de que me orgulho muito sem nunca mo terem ensinado a ser, é ser capaz de ser humilde e perdoar os outros quando se arrependem.
Continuas o mesmo: sempre a queixares-te, a vitimizares-te, a vestires a pele de coitado, a pintares os outros de negro. Tenho a impressão de que na tua vida só existem duas cores: o branco (onde tu te colocas, claro) e o preto (onde estão todos os outros), e que só pessoas que se demonstrem xoninhas é que têm o privilégio de serem pintadas de branco por ti. Mas se acaso elas te falham, vais lá e pintas de preto sem qualquer tipo de problema. Foi assim que a tua vida se desenrolou e acredito que durante muitos anos continuará, tal e qual. E é lamentável.
Mas a partir de hoje, estás por tua conta e risco. Poderás pintar de branco e preto quem tu quiseres, julgar os outros como se fosses dono e senhor da verdade, vestires todas as peles mais rascas que quiseres, tudo a que tens direito! Eu já sou, e ainda mais serei, carta fora do teu baralho.
Chegou a altura de fazer as malas com tudo o que foi feito e dito nesta relação; e levo cadernos ao peito cheios de lições. Chegou a altura de te deixar ir de vez, sem olhar para trás, na certeza de que um dia vais-te arrepender amargamente de me ter batido com a porta na cara, teres-te preocupado mais em chafurdar a merda na minha cara (não te cansas de ter as mãos sujas?) ao invés de me escutares e teres um ato humano e adulto pela primeira vez, na porcaria da tua vida. E nesse dia, eu já não vou estar.
Acredito que estarei num patamar tão elevado que quando olhar para baixo serás uma miragem da qual eu não vou querer lembrar, nem tão pouco ouvir falar. Não porque te vá ganhar ódio, não. No meu coração esse sentimento pequenino e sujo não entra! Mas porque eu não gosto de pessoas limitadas no coração, e até na alma.
Espero que um dia, quando tiveres filhos e netos (se chegares a ter mulher para os ter, claro) e lhes contares a nossa história, espero que nesse dia tenhas a humildade (que nunca tiveste para comigo) de lhes dizer "ela era tudo aquilo que eu queria e que nunca soube que tive, deixei-a ir por ser duro a achar que a vida me iria dar melhor, disse-lhe tanto que a amava mas quando tive a oportunidade de demonstrar o que meu sentimento era capaz de fazer por nós os dois, não o fiz".
Vou cuidar de mim, resolver os meus traumas do passado, vou crescer e voar para outras bandas. Na certeza de que farei sempre o melhor para ser feliz.
Tanto fiz que agora tanto faz! Mas ainda bem que o fiz, afinal, sempre foi esse o valor do meu amor por ti: fazer de tudo para nos salvar. Mas o desgaste... o desgaste levou-me a ser burra e a acabar crucificada como uma bandida.
Há amores assim, limitados!
E não tenho mais para te dizer a não ser adeus.
ML
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